O inquérito criminal que investiga fraudes em financiamentos do Programa Nacional de Desenvolvimento da Agricultura Familiar (Pronaf) no Estado, centradas no Vale do Rio Pardo, foi prorrogado por mais 120 dias. A decisão foi tomada pela Polícia Federal porque o Banco do Brasil ainda não concluiu investigação sobre bancários suspeitos de envolvimento no golpe.
O inquérito do Pronaf, que começou em 2012, deve ter pelo menos 10 indiciados, como adiantou Zero Hora em reportagem dia 7. A PF concluiu que recursos desses empréstimos eram desviados por lideranças de uma associação de produtores rurais e teriam inclusive abastecido campanhas eleitorais. Estimativas apontam que as movimentações irregulares chegaram a R$ 79 milhões e teriam atingido cerca de 6,3 mil agricultores.
A checagem da PF já localizou centenas de pessoas que podem ter sido vitimadas. A investigação deve apontar como envolvidos no golpe dirigentes da Associação Santa-cruzense de Pequenos Agricultores Camponeses (Aspac) e também funcionários graduados das agências do Banco do Brasil (BB) na região.
O inquérito é conduzido pelo delegado Luciano Flores de Lima. Ele passou todo o feriado de Tiradentes analisando os seis volumes da investigação e agora considera necessário incluir nela o resultado das auditorias do Banco do Brasil a respeito de seus funcionários, para evitar conclusões precipitadas. Pelo menos sete servidores do banco são suspeitos de negligência que propiciou a fraude.
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Falta também um laudo pericial para concluir a investigação, uma análise contábil requisitada ao BB, com movimentações nas contas dos suspeitos e das vítimas. O policial acredita que não será preciso usar os 120 dias do novo prazo para terminar a investigação.
Ao menos três integrantes da Aspac, entidade ligada ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), devem ser responsabilizados por terem colocado nas contas da entidade recursos oriundos de financiamentos que foram contratados em nomes de agricultores filiados à associação. Dirigentes da Aspac também serão responsabilizados por cobrarem taxas dos agricultores em cima de cada financiamento intermediado junto ao BB. Alguns desses colonos, plantadores de fumo e milho, dizem que só descobriram os empréstimos feitos em seu nome anos depois de os contratos serem assinados.
Muitas vezes, o dinheiro do empréstimo era devolvido pela Aspac, quando o agricultor reclamava. Em vários casos havia demora.
Os policiais vão mencionar no inquérito que algumas pessoas, desesperadas, teriam cometido suicídio quando descobriram débitos que juravam não ter contraído.