A coordenadora da Saúde Mental de Caxias do Sul, Vanice Fontanella, setor que gerencia os centros de tratamento público para dependentes químicos e alcoolistas na cidade, reconhece que há problemas no lado externo do Caps Reviver, mas reforça que o controle interno é rígido. Denúncias investigadas pelo Ministério Público indicam que pacientes em processo de desintoxicação ou participantes de terapias preventivas teriam acesso a crack e outras drogas sem muita dificuldade. Confira a entrevista de Vanice concedida à reportagem:
Pacientes estão consumindo drogas no pátio e dentro do Caps. É de conhecimento de vocês?
Vanice Fontanella: Dentro do serviço não é possível porque é um espaço de tratamento e reabilitação. Mas como nosso público alvo é o usuário de álcool e drogas pode acontecer de algum ter levado para dentro, de estar portando a droga. Sempre que identificado, o profissional conversa com esse usuário e ressalta que ali não é permitido o uso. Se quiser permanecer no serviço a droga será descartada. Caso contrário o paciente está livre para se retirar. Sob hipótese alguma é permitido.
Seria corriqueiro o uso durante o tratamento?
Vanice: Trabalhamos com a lógica da redução de danos. A redução comporta também a abstinência mas não posso negar atendimento para quem faz uso de drogas. Se tenho um usuário, por exemplo, que fuma 15 pedras de crack e não consegue se manter na abstinência, preciso cuidar dele sob todos os aspectos. Esse paciente fará uso reduzido ou substituirá por uma droga menos nociva. Ele continuará vinculado no serviço e continuará sendo atendido. Mesmo que o usuário vá embora, use droga e volte, ele tem um vínculo, estou evitando que morra, que contraia doenças, então é positivo.
O Caps já pediu atenção da polícia, da guarda?
Vanice: Nós temos a Guarda Municipal que permanece no serviço, mas é local público, é rua. Tem outros dispositivos ali, mas para abrigamento. Sabemos que pessoas vinculadas ao Caps fazem uso externamente. Não consigo evitar, não posso expulsá-los, a rua é pública. Tínhamos ronda antes. Mas como tem volume maior de pessoas no entorno, mantemos a guarda 24 horas por questão de respeito. A lógica é o guarda estar ali no pátio externo, circulando. Não fazemos revista.
Não é frustrante saber que a tentação está ao lado?
Vanice: A droga não tem como eliminar, e o acesso será cada vez maior. Se trabalha muito para o usuário ter capacidade de resistência, de ter um projeto de vida, de ter outra atividade que possa lhe proporcionar certo prazer sem fazer uso da droga. Mas infelizmente acontecem situações assim.
Tratamento desvirtuado
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Adriano Duarte
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