Carlos Rollsing
Eleito sob a desconfiança de que não tinha propostas, sentimento reforçado por suas evasivas nos debates e entrevistas, o governador José Ivo Sartori chega ao centésimo dia à frente do Piratini com o freio de mão puxado. Suas medidas mais significativas foram dois decretos para reduzir despesas.
A crise financeira, que trouxe consigo a ameaça de atraso de salários, foi praticamente a única nota tocada. Somente oito projetos pouco expressivos foram enviados à Assembleia, a bandeira prioritária do governo não foi apresentada e Sartori, entre silêncio e frases poucos esclarecedoras, segue enigmático.
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Dois grupos se destacam na análise sobre os cem dias. O primeiro, que inclui oposicionistas, sindicalistas e peemedebistas descontentes, entende que o governo ainda está perdido, sem saber o que fazer para driblar as dificuldades impostas pela situação financeira deficitária.
O segundo, integrado por aliados e líderes empresariais, acredita que o período inicial foi utilizado para um profundo diagnóstico e preparação de medidas de reforma fiscal. Os defensores dessa tese apontam, ainda, que o comportamento de Sartori, agregado à caravana criada para espalhar pelo Estado os relatos sobre a falta de dinheiro, são parte de uma estratégia para obter apoio da população e pressionar os deputados estaduais a aprovarem medidas amargas de ajuste de contas.
- É um governo que ainda não disse à sociedade a que veio. Até agora, só se esgaçou a questão financeira, dizendo que não tem como pagar - avalia um prócer
peemedebista.
Primeiros 100 dias de Sartori no Piratini têm apoio de empresários e críticas da gestão anterior
Internamente, também é feita a avaliação de que o Piratini cometeu "barbeiragens políticas" que renderam polêmica e desgaste. Por entenderem que as medidas de corte poderiam ser tomadas sem a necessidade de alarmismo, alguns aliados acreditam que Sartori criou uma armadilha para si ao assinar os dois decretos determinando cortes no orçamento e prorrogação do pagamento de dívidas herdadas.
No calor dos contingenciamentos, pelo menos três episódios contrapuseram a teoria e a prática e trouxeram constrangimento. O mais relevante foi o caso dos salários. Enquanto diminuía o policiamento nas ruas pelo corte de horas extras, Sartori sancionou os reajustes aprovados em 2014 pela Assembleia para carreiras do topo de Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público.
Com a péssima repercussão, ele e o vice-governador José Paulo Cairoli voltaram atrás e abriram mão da remuneração majorada. As polêmicas foram potencializadas por terem ocorrido em momento de discurso de caos financeiro. Ficou o desgaste político.