Com a intenção de ajudar amigos e parentes a comprar produtos e serviços ou mesmo fazer um empréstimo, 15 milhões de brasileiros ficaram ou ainda estão com o nome sujo. É o que revela um estudo realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pelo portal Meu Bolso. E a prática é mais comum do que se imagina: a pesquisa mostra que 64% dos entrevistados emprestaram o cartão de loja e foram parar no SPC.
Imagina então se você é pego de surpresa ao descobrir que a pessoa não quitou a conta que fez em seu nome no momento em que está tentando fazer outra compra. Foi o que aconteceu com o vigilante Rodrigo Oliveira, 36 anos. Ele emprestou o nome para o irmão comprar duas camisas sociais numa loja de departamentos de Porto Alegre. A compra somou cerca de R$ 100.
A surpresa para Rodrigo veio só meses depois, quando foi a outra loja tentar comprar um celular. Ele foi informado, no caixa, de que não poderia levar o aparelho pois estava com o nome no SPC.
- Fiquei até constrangido porque eu trabalho em dois empregos e pago minhas contas certinho. Deu muita raiva - diz o vigilante.
Ele não apenas ficou sem o celular como precisou procurar a empresa de cobrança. Sem dinheiro para pagar à vista, ainda teve de parcelar a dívida - que já somava mais de R$ 200 - em três vezes.
- Até fiquei um tempo sem falar com meu irmão e hoje aprendi a lição de não emprestar mais meu nome. Por mais que conheça a pessoa, tem que ficar com pé atrás. Fui ajudar e me dei mal - conta ele, quase dez anos depois do fato.
Para limpar o nome, mais da metade (52%) dos entrevistados se responsabilizaram pelo problema, assim como o vigilante. A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, afirma que a principal atitude de quem paga a dívida é cortar gastos, deixar de pagar as próprias contas e utilizar reservas financeiras para limpar o nome.
Crédito é um patrimônio, não bem para empréstimo
Diferente de Rodrigo, a pesquisa mostra que no momento em que descobriram estar com o nome sujo, quatro em cada dez consumidores (38%) disseram não ter tomado nenhuma atitude. Menos da metade dos entrevistados (39%) sequer sabia do valor da compra.
Os dados também revelam que o processo de quitação da dívida inesperada é longo. Dos atuais inadimplentes, 53% estão nessa situação há mais de três anos.
Depois de terem ficado com nome sujo, 72% dos entrevistados não conseguiram fazer um novo cartão de crédito, cartão de loja ou abrir crediário. Ou seja, muitos perderam o crédito no comércio: 64% garantem que após a inadimplência, só podem comprar à vista.
O gerente comercial da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Paulo Borba, frisa que o consumidor precisa ter consciência de que o crédito é um patrimônio da pessoa, não um bem para se emprestar.
- O crédito é algo muito valioso, é uma confiança que o cliente ganha e é preciso manter sua credibilidade fazendo um esforço pessoal, pagando no prazo e honrando seus compromissos.
Fique atento
> Algum amigo ou parente está pedindo crédito? Tente analisar o porquê. Há casos em que a pessoa já está no SPC, ou seja, já deve e não conseguiu pagar, podendo se endividar ainda mais com seu crédito.
> A pessoa está desempregada ou não tem renda? Dificilmente vai honrar com o compromisso, o que também é arriscado.
> A renda da pessoa não é suficiente para assumir a prestação da compra? Esta é a situação mais corriqueira. Tente conhecer a renda da pessoa e o que ela vai comprar. Dependendo do valor que a pessoa tenha como renda, você estará emprestando seu nome para uma compra que dificilmente ela poderá pagar.
> Se vai emprestar seu nome pense se no mês seguinte conseguirá pagar esta parcela. Quem se submete a isso, corre riscos. Leva em conta que você está emprestando seu nome e não precisa dessa compra.
> A pessoa que pede este tipo de favor precisa ter uma intimidade muito grande com você, mesmo assim é preciso analisar. Lembre que nestes casos, a garantia de pagamento é você.
> Se for emprestar, não faça parcelas a longo prazo. Quanto maior o prazo, maior o risco. Leve em conta que você ou a pessoa podem perder o emprego até o término do pagamento.
> Se já está endividado, não há mágica: procure empresas, negocie e lembre que, mesmo que a compra não seja sua, o devedor é você.