A maratona de negociações entre os representantes das seis potências do grupo 5+1 e o Irã sobre o programa nuclear de Teerã avançou na madrugada desta terça-feira com o objetivo de se costurar um acordo horas antes do fim do prazo.
Durante a segunda-feira, os ministros das Relações Exteriores do Irã e das seis potências do grupo se sentaram na mesma mesa, em Lausanne, para superar os últimos obstáculos de um acordo político que seja "factível".
- Ainda há temas difíceis. Estamos trabalhando duramente para resolvê-los. Vamos trabalhar até tarde e, obviamente, amanhã - disse Kerry à emissora CNN em Lausanne, acrescentando que "todo mundo sabe o que significa amanhã", quando a data limite para se chegar a um acordo expira à meia-noite desta terça-feira.
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A reunião, a primeira em que se reuniam chefes da diplomacia das seis grandes potências desde novembro passado, durou pouco mais de uma hora.
Faltando um dia para o fim do prazo para um acordo de princípios, ainda restavam vários obstáculos a vencer, afirmaram diplomatas ocidentais.
- Já é hora de tomar decisões para fechar um acordo - avaliou a porta-voz do Departamento de Estado americano, Marie Harf, afirmando que Washington não se precipitaria "em concluir um acordo ruim".
Ao fim do encontro, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, anunciou que deixaria Lausanne para atender a compromissos previstos em Moscou e seu porta-voz disse que ele voltaria nesta terça-feira "se houvesse uma possibilidade real de acordo".
O objetivo das negociações é alcançar até esta terça-feira um acordo político sobre o programa nuclear iraniano, que permitiria em seguida negociar até 30 de junho um acordo definitivo com todos os detalhes técnicos.
Os diplomatas querem chegar a um acordo, no qual o Irã garanta sem sombra de dúvidas a natureza civil de seu programa nuclear em troca de uma suspensão das sanções internacionais que asfixiam sua economia há anos.
- Não temos nem ideia do que vai acontecer se não conseguirmos. Deveremos nos dar conta de onde estamos exatamente e decidir o que vai acontecer a seguir. As opções de chegar a um acordo são de 50 por cento a 50 por cento - acrescentou Harf.
Segundo um diplomata ocidental, as negociações estavam bloqueadas em três pontos-chave: a duração do acordo, a suspensão das sanções da ONU e o mecanismo de garantia e controle.
- Não pode haver acordo se não for encontrada uma resposta para estas questões - acrescentou o diplomata, que pediu para ter sua identidade preservada, e enfatizou em que "chegado o momento, é preciso dizer sim ou não".
Apesar de nenhum acordo ter sido costurado, seus oponentes já começaram a criticá-lo, preocupados em se será suficiente para impedir que o Irã desenvolva a bomba atômica.
Isto inclui a oposição republicana do presidente americano, Barack Obama, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que depois de taxar o acordo de "perigoso" no domingo, voltou à carga na segunda-feira:
- O acordo que se desenha em Lausanne envia a mensagem de que não só não se pune a agressividade, como também é recompensada.
E acrescentou:
- Os países moderados e responsáveis da região, em particular Israel e outros Estados, serão os primeiros a sofrer as consequências deste acordo.
Contudo, fontes diplomáticas ocidentais disseram no domingo que, em algumas áreas deste complicado quebra-cabeça, estava perto de alcançar um acordo.
Entre estas, o número de centrífugas, que o Irã teria aceitado diminuir das quase 20 mil atuais (a metade delas ativas) para 6 mil.
Além disso, a usina subterrânea de Fordo, perto da cidade santa de Qom, poderia continuar funcionando sob condições muito estritas.
Ao contrário, o Irã desmentiu categoricamente que teria aceitado exportar todo ou parte do urânio fracamente enriquecido que mantém armazenado.
- Alcançar um acordo é factível. Encontramos soluções para muitas questões - disse o vice-ministro iraniano de Relações Exteriores, Abas Araghchi.
Os países do 5+1 estão preparados para suspender suas sanções, não eliminá-las, de forma gradual para assegurar que o Irã não viola o acordo.
A questão das sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU é particularmente espinhoso.
Araghchi disse que tinha que haver um "rascunho preciso" da suspensão das sanções. A duração de qualquer acordo (os EUA querem que seja de, pelo menos, 10 anos, ou até mesmo 15) também é motivo de disputa.