Ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Pepe Vargas espera que as manifestações no domingo sejam pacíficas, mas é enfático ao classificar como "tentativa de golpe" a defesa do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Pepe recorda os ataques de Carlos Lacerda a Getúlio Vargas para ilustrar o "espírito golpista" que setores da oposição estariam instigando. Confira os principais trechos da entrevista.
Qual a expectativa para as manifestações de domingo?
O direito à manifestação é democrático, toda manifestação pacífica é legítima. Um dos pontos que serve de combustível às manifestações é a corrupção, mas o combate é feito. No passado não era, ou era feito de forma não tão efetiva. A Controladoria-Geral da União, o Ministério Público e a Polícia Federal foram fortalecidos, e isso passa para parte da opinião pública a percepção de que a corrupção aumentou. O que aumentou foi o combate à corrupção.
O senhor vê influência da oposição nas manifestações?
Tu tens alguma dúvida? Isso está assumido, o Paulinho da Força (deputado e presidente do Solidariedade) está mobilizado em São Paulo, o que é um direito dele. Quando éramos oposição, também fazíamos mobilizações contra políticas do governo. É da democracia.
Se o ato nas ruas for grande, a oposição será revigorada?
A oposição acusou o golpe da quarta derrota eleitoral seguida. Então, resolveu elevar o tom. Se as ruas vão ser mais cheias ou mais vazias, na minha opinião, não muda o tom da disputa.
Os protestos podem ter a dimensão de junho de 2013?
Não tem como fazer essa afirmação. Toda manifestação democrática é legítima, desde que não tenha violência e não pregue a intolerância. Outra coisa é defender o impeachment.
Impeachment é uma palavra que tem circulado bastante.
Fazer a defesa do impeachment, hoje, é golpe. A presidente Dilma não cometeu crime de responsabilidade. Quem defende o impeachment propõe um golpe contra a Constituição. Quem flerta com essa possibilidade reacende o lacerdismo. Lacerda dizia quando Getúlio concorreu (em 1950): "Não pode ser candidato. Se for candidato, não pode vencer. Se for eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, precisa ser derrubado". Isso é espírito golpista.
O senhor identifica esse espírito no país? Tem relação com o PSDB?
Tem setores minoritários da oposição. Uma parcela do PSDB tentou impedir a posse da presidente questionando as urnas. Não houve guarida no TSE. Se for candidata não pode vencer, mas ela venceu. Tentaram impedir a diplomação e perderam. Tomou posse, então ela tem de ser derrubada. Vem a tese do impeachment. É a repetição do que o Lacerda dizia do Getúlio.
A população compra o discurso que vincula a alta dos combustíveis à corrupção na Petrobras?
Quando o barril de petróleo estava em US$ 120 dólares, reclamavam que não aumentávamos o preço para segurar a inflação. Dizíamos que o reajuste é periódico, sem as oscilações do mercado. Há uma manipulação política de determinados setores para tentar passar a ideia de que o combustível aumentou para pagar os prejuízos da Petrobras. Com uma parcela de pessoas pode colar, mas não acredito que cole com a maioria.
O desempenho da economia afeta o humor do brasileiro?
Acho que há clima de pessimismo econômico magnificado na disputa política. Não temos risco de disparada inflacionária, não temos risco de escalada de desemprego, não temos as contas públicas desestruturadas. Temos reservas internacionais robustas, chegamos à menor taxa de desemprego da história em dezembro.
A articulação do Planalto recebe críticas constantes. Elas chegam ao senhor? O senhor se sente confortável no cargo?
Iniciamos o ano com atritos entre os partidos da base, principalmente PT e PMDB, devido à disputa na Câmara. O PMDB queria ser incorporado nas decisões políticas do governo. Debatemos e se decidiu criar uma coordenação política, incorporando não só o vice-presidente Michel Temer como outros partidos. Nesse meio tempo, enquanto discutíamos esse ajuste, começaram vazamentos da lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Os vazamentos são atribuídos ao próprio Planalto. O palácio não tinha a lista?
Óbvio que não. Quem tinha a lista era o procurador-geral da República. Aí, se criou esse azedume, achando que o governo poderia interferir. É uma ofensa ao procurador achar que a lista dele é influenciável por questões políticas. Se isso fosse verdadeiro, não teria nomes do PT. É inverossímil a ilação de que o governo trabalhou para incluir ou retirar alguém da lista.