No dia de sua posse oficial como novo diretor do Presídio Central de Porto Alegre, o tenente-coronel Marcelo Gayer Barboza foi recebido com uma crise para administrar. Em entrevista exclusiva a Zero Hora, nesta quarta-feira, o oficial explicou o impasse com as delegacias ontem, e comentou os desafios para administrar a superlotação da cadeia.
Ex-comandante do 2º Regimento de Polícia Montada (2º RPMon), o cavalariano rejeita o rótulo de pior presídio do país e fez questão de circular com suas botas de montaria por corredores e salas para mostrar que a estrutura tem muito a oferecer.
O problema, segundo o tenente-coronel, se resume à falta de espaço. Por isso, é enfático ao afirmar que as vagas do antigo pavilhão C fazem falta. Confira trechos da entrevista.
Como funciona a proibição de entrada de novos presos no Presídio Central? Não entra preso condenado.
O preso vem pra cá, fica 24 horas, e a Susepe o realoca para outro presídio. Às vezes, fica quatro, cinco presos, até zerar. Às vezes, um, às vezes, nenhum. Isso depende da possibilidade que a Susepe tem de alocar essas vagas. A superintendência teve uma dificuldade e chegou-se a um teto que trancou (a entrada) até que se diminua a massa carcerária que está impedida de entrar. Houve um pedido da Susepe ao doutor Sidnei Brzuska (juiz da Vara de Execuções Criminais da Capital) para que desse 36 horas para conseguir as vagas. Não se conseguiu. Pediu-se mais 24 horas e também não se conseguiu todas as vagas. Hoje (nesta quarta-feira) tenho 32 presos que teriam de ser retirados.
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Embora faltem vagas, no ano passado o pavilhão C do Central foi demolido. O senhor considera que essa medida foi um erro?
Não vou dizer que foi nem um erro nem um acerto. O que posso dizer é que hoje preciso de vagas. Estou com quase mil presos além da capacidade.
Então as vagas do pavilhão C fazem falta?
É claro. E vou dizer mais: eu não demoliria (o pavilhão). Era o mais bem equipado. Todo reformado, novinho em folha.
O senhor acha que o Central precisa ser desativado?
Não. Nós não estamos precisando de vagas? Porque se vai demolir uma construção, erguida em 1959, que tem uma finalidade? Ela tem que ser usada para a finalidade dela. Vai se dar ao luxo de perder 2,5 mil vagas? Não tem por quê.
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E como administrar essa realidade de superlotação. A negociação com os presos será mantida?
Claro. Conversa tem de haver.
O senhor pretende combater as cantinas paralelas?
Não tenho conhecimento de cantina paralela. Se (os presos) estão vendendo mais caro (os produtos que são comprados na cantina oficial do presídio), eles têm de ser responsabilizados.
O senhor acredita, como a gestão anterior, que as visitas e os arremessos por cima dos muros são os principais meios para entrada de drogas e celulares? Pretende detalhar os chamados "outros meios", que respondem pela grande maioria das apreensões na cadeia?
Não acredito. Minha atenção está voltada para os outros meios. Agora, o que são esses outros meios eu ainda não sei, porque cheguei hoje.
A corrupção policial é uma possibilidade, então? O senhor pretende implantar a revista aos policiais militares?
Não é a corrupção policial, todo o ser humano (está sujeito). (A revista) já está sendo feita. Não se entra no presídio sem passar pela detecção de metal. Também está proibida a entrada de celulares, a não ser para membros da administração que tenham autorização coordenada com a Vara de Execuções Criminais.