Facção que sempre se posicionou como oposição ao PT e à direção nacional do próprio partido, o PP gaúcho protagonizou uma mudança parcial neste comportamento a partir do início do governo Dilma Rousseff, quando a sua bancada de deputados federais se aproximou do Palácio do Planalto, sobretudo do Ministério das Cidades.
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Por conta de estratégias e de interesses políticos, os seis deputados do PP na época, incluídos na lista de investigados por suposto recebimento de dinheiro do escândalo da Petrobras, deixaram de lado a postura oposicionista, assumindo, em maioria, uma linha de discrição e abertura ao diálogo com o Planalto.
A aproximação foi o caminho escolhido por Covatti, Afonso Hamm, Renato Molling e José Otávio Germano. Em geral, eram discretos, não faziam discursos em defesa de Dilma, tampouco se declaravam governistas, mas votavam mais a favor do Planalto do que contra. As exceções eram Luis Carlos Heinze e Jerônimo Goergen, que costumavam contrariar o PT e manter discurso forte de oposição.
Com os espaços loteados entre partidos da base aliada, a pasta das Cidades começou o governo Dilma nas mãos do PP, herança que já vinha desde os tempos de Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2011, Mário Negromonte era o ministro. O deputado federal José Otávio Germano (PP-RS) era seu aliado e emplacou a indicação de Ney Michelucci para a diretoria de administração e finanças do Trensurb.
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Em 2012, Negromonte caiu após uma série de denúncias e uma disputa se abriu no PP para a indicação do substituto. Aguinaldo Ribeiro (PP) acabou assuimindo o Ministério das Cidades e Molling, que o apoiou, articulou a substituição de Michelucci no Trensurb por outro progressista, o então vereador de Novo Hamburdo Leonardo Hoff.
Em Brasília, os seis progressistas mantêm relação fria e independente. Reuniões da bancada são raras. A última, por ironia, foi na véspera da divulgação da lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para tratar sobre a posição do partido no caso. Até sexta-feira, os deputados e seus assessores esperavam apenas a presença do nome de José Otávio Germano na lista.
Decano do grupo, na Câmara desde 1999, Heinze trabalha nas pautas da bancada ruralista e compartilha raras decisões com os colegas. Por vezes, tem atritos com o caçula dos investigados, Jerônimo Goergen, que chegou ao Congresso em 2011. Os dois disputam o mesmo perfil de eleitor entre os produtores rurais.
Goergen também é desafeto de Covatti, que foi deputado federal entre 2007 e 2014. Os dois são de regiões eleitorais próximas no Estado - o primeiro tem base em Palmeira das Missões e o segundo em Frederico Westphalen. No passado, Goergen foi estagiário de Covatti na Assembleia Legislativa, porém romperam e a relação jamais foi reatada.
Em fevereiro de 2013, Covatti enviou uma representação às pastas das Cidades e do Planejamento pedindo providências porque elas teriam liberado antecipadamente a deputados - Jerônimo entre eles - dados sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Como apoio a tomada de controle da bancada pelo grupo de Aguinaldo Ribeiro, que acabou convertido em ministro das Cidades, Goergen tinha trânsito dentro da pasta.
Já Covatti tentava manter laços mais próximos ao Planalto, apesar de negativas em sua base eleitoral. Em 2014, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, chegou a anunciar publicamente que Covatti seria o coordenador da campanha de Dilma no Rio Grande do Sul. Covatti se animou, defendeu a tese dentro do partido, mas foi derrotado, o que lhe rendeu um "chega para lá" da senadora Ana Amélia Lemos (PP).
Desde 2005 na Câmara, Afonso Hamm levanta a bandeira da fruticultura desde os tempos em que trabalhou na equipe de Pratini de Moraes no Ministério da Agricultura, ainda no governo FHC. Único dos gaúchos com base na Fronteira e Campanha, tem poucos atritos por disputa de espaço no mapa eleitoral. Nos últimos anos, ampliou sua atuação junto à bancada da bola, com projetos para viabilizar o legado da Copa do Mundo do Brasil.
Renato Molling, que se tornou federal em 2007, mantém atuação distante dos colegas, porém recentemente teve uma rusga na bancada. Em janeiro, na véspera da eleição da mesa da Câmara, Goergen articulava sua indicação pelo partido, pleito atropelado por Molling, que também disputou a indicação. Ambos ficaram de fora.
José Otávio Germano, com mandato de federal desde 2003, é o mais afastado do grupo. Em virtude de uma hérnia de disco, foi o deputado do Estado mais faltoso na última legislatura. Dificilmente é visto com os gaúchos do partido, sendo que o colega mais próximo é o mineiro Luiz Fernando Faria (PP-MG).
O que motivou a aproximação dos progressistas gaúchos com o governo petista não foi apenas a indicação de apadrinhados para cargos federais relevantes e o exercício de influência nos minisérios, mas também a chance de negociar a liberação de emendas parlamentares. Nesta segunda, às 17h, a direção executiva do partido se reunirá, em Porto Alegre, para discutir a crise. Os seis investigados foram convidados a prestar prestar esclarecimentos. Jerônimo antecipou que pedirá afastamento da direção partidária enquanto estiver se defendendo. Essa poderá ser uma alternativa adotada pelos demais.
A interlocutores, o presidente do PP-RS, Celso Bernardi, afirma que se trata do momento mais difícil da história da sigla. O PP gaúcho sempre se apresentou como uma fração política honesta. Dizia ser diferente do restante do partido à época em que Paulo Maluf enfrentava denúncias em São Paulo.
Depois, os progressistas gaúchos reafirmaram esse discurso ético quando nenhum dos seus quadros constou no escândalo do mensalão. A partir de 2007 as coisas mudaram: a legenda esteve no centro de um esquema de desvio de recursos no Detran. Agora, seis dos seus líderes são investigados por recebimento de propina oriunda da Petrobras.