Dois criminosos alteraram a rotina da pacata Riozinho, município de 4,3 mil habitantes no Vale do Paranhana, na tarde desta sexta-feira. A dupla manteve 20 pessoas reféns em tentativa de assalto à agência do Banrisul no centro e fez da ação, que durou quatro horas, o assunto do dia nas rodas de conversa da cidade.
Às 13h25min, Lucídio Rodrigues da Silva, 31 anos, e Marcelo Aires de Oliveira, 33, invadiram a agência bancária portando duas armas de plástico - e, assim, conseguiram ultrapassar o detector de metais. Os bandidos renderam o vigilante, de quem sacaram dois revólveres de calibre .38, e anunciaram o assalto.
Ameaçando um dos funcionários do Banrisul, Lucídio e Marcelo chegaram ao cofre e encheram uma mochila de dinheiro. Quando deram o assalto por encerrado, porém, foram surpreendidos por uma viatura da Brigada Militar (BM) que circulava pela cidade na porta da agência - para onde retornaram e deram início ao cárcere.
O comandante da BM de Rolante e de Riozinho, tenente João da Silva Flores, nunca havia se deparado com uma negociação com criminosos. Nesta sexta-feira, porém, estreou no gerenciamento de crise ao começar, às 13h35min, a conversa com a dupla pelo telefone fixo do Banrisul.
Leia as últimas notícias de Zero Hora
- Eles disseram que sabiam que tinham "perdido", mas que só se entregariam quando a imprensa chegasse - conta o tenente, que recebeu informações de um vigilante do banco liberado pela dupla.
A quadra onde fica a agência foi isolada, e o comércio teve de fechar as portas. Funcionários, apreensivos, permaneceram dentro dos estabelecimentos aguardando orientações. A Brigada Militar acionou o reforço das cidades de Rolante, Osório e Três Coroas, e o Batalhão de Operações Especiais (BOE) e o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) também se juntaram à operação - que contou com cerca de 70 homens, estima um dos policiais que participou do monitoramento.
Dentro da agência, os criminosos se mantiveram tranquilos. Pediram que a TV fosse ligada, fotografaram o dinheiro que ficou sobre a mesa e encorajaram reféns a tirar fotos do montante - inclusive, selfies segurando pacotes de papel pardo recheados com as notas. A comerciária Jucimara Broch, 36, estava entre as vítimas:
- Foram passando as horas, e nós só tínhamos de esperar. Em momento algum eles foram agressivos.
Um dos assaltantes inclusive pediu que Jucimara o adicionasse no Facebook - e a comerciária, nervosa, atendeu à solicitação. Durante a tarde, fotos internas do Banrisul já circulavam pelos grupos de WhattsApp de Riozinho.
Antes da liberação de todos os reféns, a comerciante Nilva Pandolfo Geib, 63, conseguiu deixar o prédio do Banrisul:
- Eu perguntei para eles se tinham filhos e disse que tinha deixado minha neta de quatro meses sozinha em casa com uma menor porque eu iria logo voltar. Então, eles disseram que eu podia ir embora.
Por volta das 16h30min, o Gate assumiu a negociação. Às 17h24min, o primeiro assaltante, Lucídio, deixou a agência e jogou o revólver que portava no asfalto. Em seguida, os reféns foram liberados e o comparsa, Marcelo, também se entregou. Dentro dos tênis dos bandidos, a polícia encontrou R$ 6,3 mil. Aos reféns, eles haviam dito que o comparsa que os esperava dentro de um carro os abandonou. Ele não foi localizado.
Segundo a Polícia Civil, os criminosos são do Vale do Sinos e têm passagem pela polícia - Marcelo, que estava foragido do sistema penitenciário, por roubo, e Lucídio por furto e posse ilegal de armas. Eles foram presos em flagrante por roubo consumado e cárcere privado e encaminhados à sede do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Porto Alegre. A dupla será recolhida à Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), em Charqueadas.
- Com as prisões, vamos apurar a possível participação deles em outros casos, mas eles não têm antecedentes específicos por roubo a banco - aponta o titular do Deic, delegado Joel Wagner.
À noite, o assalto com reféns era a pauta da roda do bate-papo na calçada de uma casa de carnes em frente ao Banrisul. Os chamados do telefone revelavam amigos e parentes preocupados com o ocorrido.
- Agora está tudo bem. Está todo mundo vivo, não deu nenhum tiro - tranquilizava a pessoa do outro lado da linha a proprietária do estabelecimento, Jaqueline Dal Castel, 49.
Enquanto projetava o prejuízo de ter mantido a casa de carnes fechada até as 17h por conta do isolamento da área, ela relembrou que alcançou água para o policial que começou a chamar reforço escondido atrás de um poste em frente à loja - e o chamou de herói.
- A gente fica tensa - disse, passado o susto.
Confira abaixo o local do cárcere em Riozinho, no Vale do Paranhana: