A luta contra o tráfico de espécies protegidas, que ameaça a biodiversidade e também nutre organizações criminosas, será discutida numa conferência mundial que começa nesta quarta-feira em Kasane, Botsuana.
A conferência deve fazer um balanço das metas estabelecidas em 2014 pelos 46 países que assinaram a "Declaração de Londres sobre o comércio ilegal de animais silvestres", na primeira reunião mundial sobre o assunto.
Os especialistas concordam que a destruição de habitats naturais, em particular o desmatamento, é a principal causa de extinção de espécies, à frente das mudanças climáticas e da poluição.
Em seguida, vem o tráfico de espécies protegidas, tema da conferência de Kasane.
- As espécies nunca estiveram tão ameaçadas como agora, com uma taxa de extinção de 100 a mil vezes superior ao ritmo natural - alertou o diretor-geral da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), uma das ONGs associadas à Declaração de Londres.
- O ser humano é responsável - acrescentou.
Várias espécies emblemáticas, como o rinoceronte, o elefante ou o tigre são vítimas principalmente do tráfico internacional.
Mas milhares de espécies, como tartarugas marinhas e plantas raras ou árvores de madeiras preciosas, também são dizimadas pela caça ilegal e extração ilegal de madeira.
Além de causar danos irreparáveis à biodiversidade, o comércio ilegal de espécies protegidas alimenta máfias ou grupos armados em todo o mundo.
Este comércio representa US$ 19 bilhões por ano.
- O crime organizado está envolvido em grande escala - afirmou Carlos Drews, diretor do programa mundial para espécies protegidas do Fundo Mundial para a Natureza (WWW).
- O tráfico de animais silvestres tornou-se uma ameaça não só para animais emblemáticos, mas também para a segurança regional, o Estado de direito, o desenvolvimento sustentável e a prosperidade das comunidades locais - acrescenta Drews.
Grupos armados em várias partes da África são financiados pelo comércio de marfim, dizem especialistas em caça ilegal de elefantes.
- A Declaração de Londres virou a maré na luta contra este tipo de crime. Em Kasane, os países podem reforçar os compromissos de Londres e outras medidas - comemorou Heather Sohl, especialista em espécies em perigo da WWF.
- Mas não o suficiente para conter a caça ilegal, os países também devem fazer mais para reduzir a demanda por produtos provenientes do tráfico ilegal.
A conferência de Kasane estudará várias medidas, incluindo a redução da procura por parte dos consumidores, particularmente na China.
Eles estudam também reforçar a fiscalização contra caçadores ilegais e traficantes, melhorando a cooperação entre os estados e combatendo este crime como se luta contra o terrorismo.
A conferência também buscará que os países onde a caça é praticada se engajem mais na luta contra o tráfico e tirem benefícios dessa luta, em particular no desenvolvimento do turismo.
- Os governos progrediram na luta contra o tráfico de espécies desde a Conferência de Londres - disse Sabri Zain, diretor da TRAFFIC, uma rede de monitoramento de comércio ilegal de fauna e flora silvestres.
- Mas são necessários mais recursos e medidas para garantir que a vontade se traduza em melhorias tangíveis no terreno - acrescentou Sabri Zain.