A corrida contra o tempo da presidente Dilma Rousseff para encontrar um nome com credibilidade no mercado para reerguer a Petrobras ganhou nesta quinta-feira dois novos obstáculos: a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados para apurar desvios na estatal e a deflagração da nona etapa da Operação Lava-Jato.
Os dois elementos reforçam o que é apontado nos bastidores como o maior empecilho a encontrar um substituto para a presidente demissionária, Graça Foster: o risco de surgirem irregularidades ainda não detectadas.
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A origem da investigação: tudo começou no posto
Dilma passou o dia em contatos para encontrar um nome, auxiliada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. A intenção do Planalto é anunciar a nova diretoria hoje, na reunião do conselho de administração da estatal, na qual será formalizada também a saída de cinco diretores e de Graça.
Graça Foster e mais 5 diretores da Petrobras renunciam
Até esta quinta-feira, o mais cotado para assumir era o presidente da Vale, Murilo Ferreira. Com boa reputação no mercado, o executivo conta com a simpatia de Dilma e de Mercadante. É apontado como alguém capaz de fazer mudanças fortes na condução da Petrobras. Seria capaz de produzir efeito semelhante ao que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, gerou em relação à política econômica.
Segundo se comenta nos bastidores, Ferreira também teria mais dificuldade em recusar a missão de chefiar a Petrobras nesse momento de incertezas do que outros executivos de mercado. Isso porque ele está na Vale, uma empresa que tem entre seus principais acionistas os fundos de pensão das empresas estatais federais. Assim, o poder de pressão do Palácio do Planalto sobre ele é um pouco maior.
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Em razão da urgência de encontrar um nome que aceite a missão, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, poderia ser uma solução emergencial. Na indefinição, Henrique Meirelles e Rodolfo Landim, entre outros, continuavam no páreo.
Machado renuncia à presidência da Transpetro
Após três meses de afastamento da presidência da subsidiária de transporte da Petrobras, a Transpetro, Sérgio Machado entregou nesta quinta-feira carta de renúncia ao cargo, à presidente da estatal, Graça Foster. Em um texto de poucas linhas, Machado se ateve a pedir o afastamento definitivo, sem apresentar justificativas ou mencionar as denúncias feitas à Polícia Federal, na Operação Lava-Jato, de que integrou o esquema de corrupção na empresa.
Segundo fontes, a intenção não era sair neste momento. Mas, depois que Graça e cinco diretores pediram demissão, na última quarta-feira, Machado considerou que sua permanência na estatal era insustentável. A saída foi aproveitar a leva de renúncias para deixar a companhia com menos prejuízo a sua imagem.
Ex-senador pelo PMDB, afilhado político do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Machado estava afastado da presidência da Transpetro desde 3 de novembro de 2014, por pressão da auditora PricewaterhouseCoopers (PwC). A empresa de contabilidade se negou a validar o balanço financeiro da companhia enquanto ele fosse mantido no cargo. Em depoimento, o delator Paulo Roberto Costa disse ter recebido R$ 500 mil das mãos de Machado como pagamento de propina.
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Desde o início de novembro, o presidente da Transpetro prorrogava a licença sem remuneração consecutivamente. Foram duas licenças de um mês estendidas por duas vezes. Em janeiro, ganhou mais 18 dias para recorrer a padrinhos políticos, na tentativa de se manter no cargo. No último dia 21, ganhou sobrevida ainda maior, até 20 de março. Mas, nesta semana, de acordo com fonte próxima a ele, "foi pego de surpresa" com a notícia de que quase toda a diretoria da Petrobras havia renunciado.
A expectativa de Machado era que as investigações internas da Petrobras e de consultorias independentes não encontrassem irregularidades na subsidiária de logística. Ele apostava que as repercussões da Lava-Jato seriam menores e que, em algum momento, iria retornar. Perdeu a esperança nesta semana.