Assim como Taquari assistiu, no fim do ano passado, à remoção do busto do conterrâneo Costa e Silva, Bagé, na Campanha, recentemente viu desaparecer o letreiro que, até então, nomeava a primeira agência do Banrisul da cidade como Presidente Médici.
O ex-presidente da ditadura militar Emílio Garrastazu Médici é natural de Bagé e, assim como em Taquari, é homenageado em diversos pontos do seu município, desde ginásio, monumentos, colégio até endereços.
No entanto, a principal diferença entre as duas homenagens desfeitas é que, na primeira, ela foi comandada pela prefeitura. Quanto à mais recente, ocorrida supostamente na semana passada, ainda não se sabe quem é o autor, nem quanto à colocação do letreiro nem quanto à remoção.
Em uma rede social argentina, há um mês, um usuário postou publicamente uma foto chamando a atenção para o nome da agência. "Em Bagé, RS, agência do #Banrisul homenageia Médici, presidente da #ditadura militar que torturou e matou milhares de pessoas que lutavam por democracia. Vamos divulgar e compartilhar esse absurdo pelas redes sociais até o Banrisul remover essa homenagem!", criticou Marcelo K.
Segundo o fotógrafo Tiago Rolim de Moura, o Jornal Minuano chegou a fazer uma enquete sobre a nomenclatura no início do ano, quando o caso veio a público, mas a maioria dos moradores disse desconhecer que a agência tinha esse nome.
A assessoria de imprensa do Banrisul afirma que nenhuma agência do banco tem nome de pessoa. No caso desta de Bagé, o nome oficial é o do próprio município. A outra agência existente lá leva o nome da rua, Marechal Floriano, e assim acontece, conforme o Banrisul, com todas as outras: nome da cidade, da rua, do bairro ou de alguma referência que a localize.
Rio Grande do Sul teve o maior número de locais com violações de direitos
humanos
A assessoria sequer confirma que o letreiro foi retirado e diz que a instituição está averiguando como o adesivo foi parar na porta de vidro da sede. ZH não conseguiu contato com a gerência local do Banrisul nem com a prefeitura.
A remoção de nomes dos ex-presidentes da ditadura militar (1964-1985) ganhou força após a divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), no final do ano passado, que apontou a responsabilidade dos militares nas violações de direitos humanos durante o regime. O prefeito de Taquari, por exemplo, creditou ao CNV a remoção do busto de Arthur da Costa e Silva. Antes disso, Porto Alegre já havia vivido polêmica com a troca de nome da Avenida Castelo Branco por Avenida da Legalidade e da Democracia.
Em janeiro deste ano, ZH publicou um levantamento que indicou a existência de, pelo menos, 78 locais públicos no Rio Grande do Sul, entre endereços e escolas, que ainda homenageiam presidentes da ditadura.