A família do ex-presidente João Goulart, o Jango, iniciará, desta vez de forma independente, um novo processo de análise sobre as condições da morte do líder trabalhista em dezembro 1976, na Argentina, quando estava no exílio.
Embora as autoridades não tenham divulgado, os exames feitos em laboratórios internacionais, após o processo de exumação, apontaram a presença de uma substância nos restos mortais de Jango: trata-se do tetranitrato de eritritol, um componente químico explosivo.
Começa, em São Borja, exumação de Jango
Em 1º de dezembro de 2014, a Secretaria dos Direitos Humanos divulgou laudo técnico que não indicava sinais de envenenamento do ex-presidente. Nenhuma substância, segundo o comunicado, havia sido encontrada.
A morte de Jango teria ocorrido por causas naturais. Apesar disso, sob o argumento de que a passagem de quase quatro décadas pode ter apagado vestígios, não foi desconsiderada completamente a hipótese de assassinato.
À época, a opção dos técnicos por não divulgar a identificação do tetranitrato de eritritol foi feita porque, na avaliação deles, era algo de pouca relevância, em quantidade insignificante. Para os peritos, a substância encontrada é, muito provavelmente, uma derivação do remédio que o ex-presidente tomava para o coração. Mas não foi descartada totalmente a possibilidade de se tratar de resíduo de um composto diferente. Por isso, a família resolveu retomar as análises.
Neto alega que busca certeza sobre substância
Em parceria com o Movimento de Justiça e Direitos Humanos, o Instituto João Goulart pretende chamar especialistas na área de toxicologia para aprofundar estudos sobre o laudo e o tetranitrato de eritritol. No futuro, não estão descartadas novas análises sobre os restos mortais coletados, que estão armazenados sob os cuidados da Polícia Federal.
- Vamos buscar pessoas de fora, do Uruguai e da Argentina, para dar um olhar mais afiado sobre esse assunto. Não estamos contestando o laudo divulgado no ano passado, mas queremos ter certeza se a substância tem ou não relação com o remédio do coração. Vamos continuar investigando até o fim - afirma Cristopher Goulart, neto do ex-presidente e membro do Instituto João Goulart.
O custo
Realizada pelo governo federal a pedido da família, a exumação de Jango custou R$ 401,3 mil aos cofres da União. A informação foi obtida por ZH junto ao Palácio do Planalto, por meio da Lei de Acesso à Informação.
Os desembolsos, feitos pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, cobriram gastos com o ato da exumação, análises em laboratórios, devolução dos restos mortais e reuniões de elaboração do laudo com o resultado.
O motivo
O procedimento, realizado em 13 de novembro de 2013, tinha o objetivo de esclarecer dúvidas que pairavam sobre a causa da morte de Jango. Havia a suspeita histórica de que os militares, responsáveis pelo golpe que lhe derrubou do poder em 1964, poderiam tê-lo envenenado no desenrolar da Operação Condor, marcada pela união de esforços de ditaduras do Cone Sul.
A exumação foi coordenada pela Polícia Federal, que contou com o apoio de 12 peritos, sete deles estrangeiros.