O governo do Estado voltou atrás na decisão de acabar com o serviço de atendimento aeromédico, que há dois anos vem sendo realizado por meio de um termo de cooperação entre Samu e Brigada Militar. Em entrevista a ZH, o secretário de Saúde, João Gabbardo, disse que a atividade era "totalmente dispensável" e que o atendimento poderia ser feito por via "terrestre com uma eficiência melhor do que pelo serviço aéreo".
Nesta quinta-feira, após o assunto repercutir negativamente, Gabbardo afirmou que havia sido mal interpretado e que estaria se referindo à equipe de 15 profissionais - médicos e enfermeiros do Samu - contratados pela prefeitura de Imbé, no Litoral Norte, com verba repassada pelo Estado. Segundo o secretário, o termo de cooperação com o Samu será renovado, mas o grupo deverá ser substituído por profissionais vinculados ao Estado e, ao contrário de hoje, sem dedicação integral ao serviço aeromédico.
- Vai haver cobertura e gente suficiente para fazer o trabalho. Isso não vai se refletir em prejuízo para a população - argumentou.
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Ontem, Gabbardo havia dito que o acordo não seria renovado e que o atendimento voltaria a ser feito como no passado: pela BM (sem o suporte de médicos e enfermeiros) e, se necessário, por empresas privadas. O secretário reiterou que é incerto o futuro das duas aeronaves adquiridas na gestão passada, ao custo de R$ 26 milhões (70% do valor já foi pago), e que deverão ser entregues em fevereiro.
Ex-coordenador estadual do Samu e chefe da equipe que será dispensada, Maicon Vargas lamenta a decisão do governo, embora ainda não tenha sido informado oficialmente. De acordo com ele, o Estado investiu na capacitação do grupo, e trocá-lo por profissionais sem preparo específico para o atendimento aeromédico seria "temerário".
Vargas conta que os médicos e enfermeiros estão trabalhando sem receber salários há quatro meses, devido ao atraso no repasse do Estado para as prefeituras da verba destinada ao custeio do Samu. Ele ressalta que os profissionais "foram escolhidos a dedo" pela vasta experiência e que nenhum deles possui vínculo político:
- É triste ver um serviço que está se alavancando, um trabalho feito com esforço ser desmanchado por uma questão que só pode ser pessoal. Não é justo com a gente e muito menos com a população. Uma vida não tem preço. Se tivesse sido feito apenas um atendimento em dois anos, ainda assim teria valido a pena.
Conforme Vargas, foram realizados 140 atendimentos nos últimos 12 meses, como o resgate dos praticantes de rapel em Maquiné e das vítimas do acidente com ônibus em Glorinha. Os números de atendimentos realizados são contestados pela Secretaria da Saúde, que considera apenas 24 no último ano. A pasta, no entanto, leva em conta apenas os dados registrados pela central de regulação estadual do Samu, mas seriam mais de uma as origens dos chamados.
* Zero Hora