Sorte da presidente Dilma Rousseff que ela nunca mais precisará participar de um debate eleitoral.
Com sua notória dificuldade de completar um raciocínio, Dilma se atrapalharia para explicar por que, nos primeiros dias do segundo mandato, adotou as medidas amargas que, na campanha, atribuía a Marina Silva e a Aécio Neves. Azar do PT, que na próxima campanha terá de justificar as "maldades" do segundo governo Dilma, a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, um economista linha-dura como Armínio Fraga, e a nomeação de ex-inimigos como Kátia Abreu e Eliseu Padilha, além de nulidades como o ministro do Esporte, George Hilton.
Dilma pode até trocar o ministério inteiro, mas não conseguirá apagar de seu currículo a adoção de medidas que já estão afetando e vão pesar ainda mais no bolso dos brasileiros. Por mais que sejam providências necessárias ao controle da inflação e à retomada do crescimento econômico, é improvável que tivesse sido eleita se, na campanha, revelasse metade das medidas que adotou entre o segundo turno da eleição e este 20 de janeiro.
Imagine-se a candidata Dilma no debate decisivo da TV Globo dizendo as seguintes frases:
"Como o governo gastou demais, teremos de adotar medidas impopulares para recolocar a economia nos eixos e reconquistar a confiança do mercado."
"Vou convidar um executivo do Bradesco para o lugar de Guido Mantega, porque as contas estão deterioradas e precisamos aumentar a arrecadação em pelo menos R$ 20 bilhões."
"Vamos ressuscitar a Cide, aquela contribuição sobre os combustíveis, que existia e foi zerada no meu governo para evitar o aumento do preço na bomba. O aumento será de 22 centavos por litro de gasolina e de 15 centavos por litro de diesel, na refinaria. Ainda não sabemos quanto isso vai significar na bomba."
"Infelizmente, a Caixa Econômica Federal terá de aumentar os juros da casa própria. Mas vamos preservar os imóveis do Minha Casa, minha vida e os financiados com recursos do FGTS."
"O IOF dos empréstimos bancários vai dobrar. Subirá de 1,5% para 3%. É preciso conter o crédito para controlar a inflação."
"O PIS-Cofins dos importados vai aumentar de 9,25% para 11,75%. Você tem de entender que é preciso equilibrar nossas contas externas."
"A conta de energia terá um aumento significativo, porque teremos de retirar o subsídio dado ás empresas do setor elétrico. Assim, fica mais transparente: em vez do contribuinte pagar essa conta com o dinheiro dos impostos, o consumidor paga direto na conta de luz."
"Vamos adotar o sistema de bandeiras, para ficar claro que estamos cobrando mais quando a falta de chuva nos obriga a acionar as usinas térmicas."
"O aumento do preço da energia elétrica não evitará apagões se o verão for rigoroso e o consumo aumentar demais."
"Precisamos rever as regras de concessão do seguro desemprego e das pensões do INSS."
"Estamos pensando em propor a volta da CPMF, para aumentar os investimentos na saúde."
Essa lista poderia continuar com outras medidas em gestação nos ministérios, mas todas as citadas são verdadeiras. Se Dilma tivesse cogitado adotar metade delas, certamente não teria vencido a eleição. Marina ou Aécio poderiam até ter feito um ajuste mais duro, mas foram rejeitados nas urnas e ninguém saberá o que fariam se tivessem sido eleitos.
O certo é que Dilma se elegeu e está fazendo o que prometeu não fazer. E ainda tem de lidar com o escândalo da Petrobras.
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