A empolgação dos gaúchos com voo direto de Porto Alegre para os Estados Unidos não durou muito. Ainda no final de 2013, quando começou a operar o trecho que liga a Capital a Miami, as queixas eram da falta de conforto e de entretenimento na longa viagem. Um ano depois, o que aflige os passageiros da American Airlines são os atrasos constantes e a segurança das aeronaves.
Só em dezembro, três situações envolvendo defeitos nos aviões - um com 15 anos e outro com 26 anos e meio de uso - chamaram a atenção. No dia 23 de dezembro, uma das aeronaves foi obrigada, devido a problemas técnicos, a retornar ao Salgado Filho 45 minutos após decolar. O mesmo avião passou por reparos por mais de 12 horas em Miami antes de seguir para o Brasil. Os passageiros foram obrigados a desembarcar e aguardar 15 horas antes de decolar. Para passar o dia esperando, receberam apenas US$ 12, lembra o contador Alexandre Bruscato, que estava no voo com o filho Lucca.
- Muitos desistiram da viagem quando se deram conta de que entravam no mesmo avião que havia apresentado problemas. Nós continuamos e ficamos quatro horas lá dentro aguardando antes de decolar. O piloto foi obrigado a gravar em áudio mensagem garantindo que o avião tinha condições - conta Bruscato, disposto a processar a companhia.
Atrasos são recorrentes
Os aviões são "surrados", mas seguros, garante o professor de Conhecimentos Técnicos de Aeronaves da Pontifícia Universidade Católica, Hildebrando Hoffman. O especialista afirma que a manutenção costuma ser bastante rigorosa e que o tempo de operação do avião não define se é mais ou menos seguro.
- Máquinas mais antigas têm desgaste maior e com isso mais manutenção - explica.
Em nota, a companhia lamentou os transtornos aos clientes e afirmou que receberá 112 aeronaves este ano e 84 em 2016. Não indicou, no entanto, se alguma delas será utilizada no trecho.
O atraso que os clientes enfrentaram às vésperas do Natal não foram exclusividade desta época, tradicionalmente com aeroportos movimentados. Desde o início da operação, passageiros enfrentam atrasos. O auge foi em maio passado, quando 71% dos voos da companhia saíram da Capital com pelo menos meia hora de demora. Órgãos internacionais estipulam que, em épocas de maior fluxo, o percentual não ultrapasse 15%.
Os atrasos têm estimulado clientes a abrir mão da comodidade do voo direto e optar por escala em Guarulhos, viajando por outra companhia, conta Danilo Martins, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav-RS) no Estado.
- Quando lançaram a novidade, todo mundo queria, parecia uma grande vantagem. Mas os atrasos deixaram os passageiros inseguros, com medo de perder compromissos - conta Martins.
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), desde que a American abriu o trecho, são 107 queixas sobre o serviço. Vinte referentes aos transtornos sofridos às vésperas do Natal.
Em razão disso, a agência encaminhou ofício à companhia para comprovar a prestação de assistência aos passageiros, sob pena de multa que pode variar de R$ 4 mil a R$ 10 mil por infração.
Avião da American Airlines na pista do Salgado Filho, minutos depois de tentar voar para Miami em 23 de dezembro
Foto: Carlos Macedo, Agência RBS
DECOLAGEM DEMORADA
Percentual de atraso de pelo menos meia hora nos voos de Porto Alegre a Miami
2013
Novembro - 11%
Dezembro - 23%
2014
Janeiro - 23%
Fevereiro - 14%
Março - 35%
Abril - 63%
Maio - 71%
Agosto - 16%
Setembro - 10%
Outubro - 10%
DEZEMBRO TURBULENTO
O mês foi cheio de percalços para clientes da American Airlines
Dia 3: clientes esperam 12 horas na Capital depois que voo para Miami foi cancelado por necessidade de manutenção do avião.
Dia 22: passageiros aguardam mais de 15 horas em Miami.
Dia 23: avião retorna ao Salgado Filho 45 minutos após decolar por problema técnicos.
Dia 24: avião faz duas arremetidas antes de pousar na Capital. A razão seria a falta de alinhamento da aeronave com a pista.