Foi, conforme todos os registros, a maior manifestação de rua da história da França, superando até mesmo as multidões que comemoraram a libertação de Paris em 1944. Trabalhadores e intelectuais, donas de casa e aposentados, líderes religiosos e artistas, sob pesadas roupas de frio e muitas vezes levando filhos pequenos em carrinhos ou pelas mãos, desfraldaram seu mais vemente repúdio aos atentados de 7, 8 e 9 de janeiro. Muitos levavam um cartaz ou button com a frase "Eu Sou Charlie". Outros preferiram "Eu Sou Ahmed" (em homenagem ao policial muçulmano Ahmed Merabet), "Eu Sou HyperCasher" (referência ao mercado kosher no qual morreram o sequestrador Amedi Coulibaly e quatro vítimas), "Eu Sou Francês". Noite fechada, milhares ainda se concentravam sob o vulto de Marianne, símbolo republicano francês, na Praça da República.
Nesse espetáculo de força e convicção, os políticos tradicionais, cada vez mais desgastados, tiveram um papel discreto. Dezenas de líderes mundiais ensaiaram alguns passos, de braços dados, no Boulevard Voltaire. Muitos comandam governos e regimes especializados em prender, chicotear e bombardear jornalistas. Outros, se não o fazem diretamente, permitem que se faça. Para esses, a foto do Cordão dos Defensores da Liberdade de Expressão permanecerá para sempre como uma confissão de hipocrisia.
Reduzir o dia de ontem à foto dos convidados do presidente François Hollande, porém, seria o mesmo que deixar de ver a floresta para se fixar nos cupins. A ausência da Frente Nacional em Paris - Marine Le Pen limitou-se a aparecer em público em Beaucaire, cidade de 15 mil habitantes no extremo sul do país - pode ser um indício de que a demagogia xenófoba tem limites. Da mesma forma, o discurso do medo e da guerra encolheu-se, envergonhado. Por tudo isso, Paris mereceu o título de capital do mundo no 11 de Janeiro.
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