Em uma peça pouco iluminada da casa onde vive com a família, no Bairro Mathias Velho, em Canoas, o estudante André Luiz de Freitas, 15 anos, fez por três anos as lições das aulas de inglês antes do anoitecer. Com apenas uma lâmpada instalada de modo improvisado, próxima à janela, precisava aproveitar a luz solar do seu "cantinho de estudo".
O ritual se repetia diariamente também com os temas da escola. Não baixar a cabeça frente ao obstáculo valeu a pena. Nos próximos dois meses vai poder praticar e aprimorar a língua nos Estados Unidos.
>>> Aos 53 anos, estudante vira referência na turma de intercâmbio
Conseguiu uma bolsa pelo Partners of the Américas - instituição que promove intercâmbios aos Estados Unidos - para morar e estudar em solo americano. Junto com outros seis jovens, embarca na noite de sexta-feira para o estado da Indiana, no Centro-Oeste dos Estados Unidos.
Lá, vai descobrir um universo novo. Irá morar em uma casa de família e vai estudar em turno integral, das 9h às 16h, até 9 de março, quando retorna ao Brasil. A cidade, a família e a escola serão informados pela Partners no dia da viagem.
- Como só faltam três dias, a ansiedade é muito grande.
Leia mais notícias do Diário Gaúcho
Curta o Diário Gaúcho no Facebook
Nas dificuldades, encontrou um incentivo
Focado nos seus objetivos, André fez das dificuldades enfrentadas por qualquer adolescente de baixa renda um incentivo para ir além.
Desde os cinco anos integra a ong Canta Brasil, onde começou a ter aulas de dança da jazz, hip-hop, balé e canto. Por meio da ong, conseguiu uma bolsa para estudar em uma escola e inglês e outra para um colégio particular de Canoas - onde cursará o segundo ano do Ensino Médio no ano que vem. As oportunidades surgiram e ele passou a retribuir as chances com o voluntariado na ong dando aulas de dança.
- O Canta Brasil foi essencial para mim. Encontrei muitas pessoas importantes e tive toda minha formação humana lá dentro.
Leia mais notícias sobre Canoas
O menino que nunca pisou em um avião prepara as malas para realizar um sonho. A seleção da Partners iniciou em março com entrevistas até que restaram 24 pré-selecionados que culminaram nos sete "embaixadores" que estudarão fora. Junto com a bolsa, teve custeado os gastos com passaporte e visto.
- Meu maior objetivo é aprimorar o inglês. Tento não criar tanta expectativa, no primeiro momento quero ver como vai ser com a família de lá, ainda não sei quem são, mas vou descobrir logo. Estou fazendo um álbum com fotos minhas para levar para eles, para que possam entender minha rotina aqui - conta.
"Ele vai longe", diz pai orgulhoso
André é o caçula da família. Mais novo de quatro irmãos, vive desde que nasceu em uma casa simples no Mathias Velho com o pai Euclides Menezes da Silva, 61 anos, que atualmente está desempregado, a mãe, a auxiliar de serviços gerais, Divanir de Freitas da Silva, 60 anos, e o irmão, Leonardo, 19 anos.
Orgulhoso, o pai enche os olhos de lágrimas quando questionado sobre a importância da viagem para o futuro do filho.
- Estou muito feliz, jamais teríamos condições de dar isso a ele. Esse meu garoto vai longe - gaba-se Euclides.
E se depender da força de vontade de André, vai mesmo. O jovem quer fazer curso superior, mas ainda tem dúvidas sobre a profissão a seguir, adianta, apenas, que pensa em trabalhar na área da comunicação.
De acordo com a presidente da Partners of the Americas no Rio Grande do Sul, Ana Isabel Krziminiski, metade da bolsa de André foi viabilizada através da ong e a outra metade por meio de doação de associados à Partners.