A partir da notícia da morte de Ricardo dos Santos, familiares e amigos que estavam na entrada do Hospital Regional de São José começaram a sentir o peso da perda. Ricardo sempre impressionou a todos pela coragem com que encarava as ondas e pela força de vontade em ser feliz, contam amigos. E, mesmo após ser baleado e estar na UTI do hospital, continuava a dar exemplo para os mais próximos.
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- Ele sempre tinha coragem para encarar as ondas e foi um grande batalhador. Nesses dias também, tentando lutar para permanecer vivo. É um exemplo - disse o amigo e surfista Adriano de Souza, o Mineirinho.
Surfista Mineirinho também esteve presente
Ricardo dos Santos tinha 24 anos e sempre morou e defendeu a praia da Guarda do Embaú, em Palhoça, onde começou a surfar com sete anos de idade. Ganhou fama internacional nos grandes tubos do Havaí e do Taiti, onde se tornou o primeiro surfista da história a vencer as triagens para a etapa do WCT da Polinésia Francesa na temida bancada de Teahupoo por dois anos consecutivos, em 2011 e 2012. No Billabong Pro Tahiti eliminou Kelly Slater em uma bateria.
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Mas não foi a fama de Ricardo dos Santos que levou tantas pessoas a prestarem apoio enquanto o surfista passava por cirurgias e recebia bolsas e bolsas de sangues.
- Antes de ser um surfista, era um jovem, um cara que amava a Guarda do Embaú e seus amigos. Mas foi um cara que surfou as maiores ondas do mundo, e que não morreu na água. Foi morto em um ato de covardia - ressalta Michele Chemale, amiga íntima da família.
A mãe, Luciane dos Santos, assim que soube da morte do filho, não queria acreditar.
- É mentira, é mentira. Eu quero o meu filho de volta. Traz ele de volta, traz, por favor - gritava ela.
Tatuagem no obral da mãe Luciane dos Santos
Era a confirmação que ninguém queria acreditar. Nem família, nem amigos. Entre aqueles que prestavam apoio, as famílias Wood, Muniz, e Gouveia, tradicionais do surfe catarinense. Fabinho Gouveia que viu seus filhos crescerem e surfarem a lado de Ricardo e outros amigos estava mais calmo, mas ainda assim falava pouco e demorava para encontrar as palavras.
- A gente vê essa molecada crescer e aprender um com o outro. E, como pai, ver eles assim nos arrasa. Mais uma pessoa do bem que se vai e deixa a sensação de que a vida, para alguns, vale muito pouco.
Direto do Havaí, seu filho Ian Gouveia mandou uma mensagem pelo celular dizendo que não iriam surfar hoje e que estavam todos concentrados em apoio aos amigos e familiares.
Os irmãos, Caue Wood e Luan Wood chegaram quietos alguns minutos depois da confirmação da morte. Os dois surfistas do Sul da Ilha de Santa Catarina dividiram diversos momentos com Ricardo dentro do mar. Mas assim que Luan constatou o clima triste do local, desabou em lágrimas que escorriam sobre os óculos escuros. Cauê ficou mais estável, nem por isso mais triste.
Luan Wood de óculos escuros e boné e Fabinho Gouveia de camisa verde
- Lembro de nós dentro da água e ele sempre motivando para encarar as ondas maiores: vai nessa, vai nessa que é grande - conta Cauê Wood que abriu um sorriso ao recordar do amigo.
Alejo Muniz, também amigo de Ricardo do Santos, recebeu a notícia da morte por telefone. Muniz estava no Rio de Janeiro e passou a se organizar para voltar a Santa Catarina ainda nesta terça-feira.
Desde a morte do surfista, logo após às 13h desta terça-feira, passaram-se três horas de sofrimento sob as sombras das árvores que cercam a entrada do Hospital Regional de São José. Aos poucos, e talvez por falta de fôlego, o choro se acalmou e o silêncio ficou mais forte. Logo em seguida, o corpo de Ricardo dos Santos deixou o hospital a caminho do Instituto Médico Legal (IML), onde foi feita a perícia e depois iria para sua praia natal para o velório. A intenção da família e cremar o corpo e jogar parte das cinzas no mar da Guarda do Embaú e outra parte no Havaí.