Cruzar ou tocar uma colmeia de abelhas nessa época do ano, em que estão em plena reprodução, pode ser a faísca necessária para que um ataque agressivo comece. Os sete homens que desciam uma cachoeira em Maquiné, no litoral Norte, quando praticavam rapel, no sábado, possivelmente provocaram um ninho de abelhas porque estavam próximos demais.
O Sargento Volmir Trindade, do Corpo de Bombeiros de Terra de Areia, que atendeu ao pedido de resgate, confirmou que foram abelhas que atacaram o grupo.
O Rio Grande do Sul possui mais de mil espécies de abelhas. Três grupos delas são conhecidas na região: as abelhas sem ferrão, as africanizadas e as mamangavas. Elas vivem organizadas em grupos, tem rainha e operárias, formando uma organização com castas.
Segundo zoóloga Betina Blochtein, diretora do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS, a espécie Apis mellifera, conhecida como "africanizada" é um híbrido das abelhas africanas com outras trazidas da Europa.
- Essa espécie [e responsável pela maior parte dos acidentes que acontecem no Estado. É muito improvável que um problema como esse ter sido feito por mamangavas - explica.
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A região em que os praticantes de rapel estavam é conhecida como uma zona de falésias, habitat natural de abelhas e vespas. A dor causada pela ferroada, assim como a agressividade do ataque, é característica comum de ambas.
- Um dos praticantes precisava ter descido antes para verificar a presença de abelhas. São os únicos insetos com ferrão que habitam essa região. Eles procuram esse tipo de local exatamente porque predadores têm dificuldade de acessar - diz Rafael Gehrke, responsável técnico por abelhas nativas do projeto Taramanhy da Ong Ação Nascente Maquiné (Anama).
As abelhas africanizadas são aquelas mais conhecidas, que cercam uma bebida doce, por exemplo. Não há um padrão de coloração, elas podem ser encontradas tanto mais claras quanto mais escuras. As mais comuns são na cor amarelo e preto. As mamangavas são grandes, mais arredondas e largas, com aspecto aveludado e, em geral, vivem em locais baixos. A descrição é semelhante a feita pelos sobreviventes que foram em busca do resgate. Ainda assim, tanto a zoóloga quanto Gehrke afirmam que é pouco provável que essa espécie seja a responsável.
- Nem as africanizadas, nem as mamangavas atacam espontaneamente, afinal elas morrem quando perdem o ferrão. As abelhas só atacam se sentirem ameaçadas. Elas usam a própria vida para defender a colmeia. Se o ninho for tocado, elas certamente vão colocar a vida em risco - diz a especialista em ecologia de abelhas.
Todas as pessoas, alérgicas ou não, podem sofrer com as ferroadas de uma abelha. Betina diz que dez ferroadas são suficientes para que alguém comece a entrar em choque.
Além da dor local, do inchaço e da coceira, o veneno pode entrar na corrente sanguínea. O ferrão é como um espinho com duas bolsas, que contém veneno. A sensação é de uma seringa injetando veneno por vários minutos.
Arrancar ou espremer são as formas erradas de retirar um ferrão, pois vão facilitar a injeção do veneno.
O correto é tirar raspando para o lado, como se estivesse arranhando a pele com a unha. No entanto, se o ferrão atingir locais mais sensíveis, como a cabeça, pode espalhar o veneno antes de ser arrancado.
As vítimas foram identificadas como Ronei Marcelino Pinto, 48 anos, e Jean Carlos Machado Lopes, 41. Segundo Günter Ayala, médico socorrista do grupamento aeromédico do Samu, que participou do resgate, um dos homens caiu de cerca de 50 metros e morreu na hora, devido às fraturas decorrentes da queda. O outro, que teria tido a queda amortecida pela fricção da corda, permaneceu vivo por algumas horas, mas faleceu ainda na noite de sábado.
- Ambos tinham muita experiência, eram capacitados e treinados, mas o enxame tirou eles de uma situação de controle. Ainda que tivessem com picadas pelo corpo, a morte dos dois foi em decorrência dos traumas originados pela queda - explica Ayala.
Veja o local onde aconteceu o acidente:
Em áudio, socorrista conta como foi o resgate:
Confira imagens do resgate: