Passados quase um ano e meio do maior incêndio na história da Reserva Ecológica do Taim, o governo admite que pouca coisa mudou. Se hoje um novo desastre acontecesse na maior unidade de conservação do Estado, é possível que as conseqüências fossem semelhantes.
O chefe da reserva que fica em Rio Grande e em Santa Vitória do Palmar, Henrique Ilha, lembra das 200 horas de fogo que queimaram uma área equivalente a 5,6 mil campos de futebol:
”Houve uma demora para dar resposta, as primeiras horas são essenciais e a gente foi receber auxílio dos grandes aviões só no terceiro dia, quando as chamas já haviam se espalhado”.
Hoje, o problema se repetiria. Pois o governo federal ainda não tem avião próprio para combate de incêndio florestal. E o contrato com a empresa terceirizada continua com a mesma falha: a companhia só é obrigada a prestar socorro depois de três dias da notificação.
Em um levantamento exclusivo da Rádio Gaúcha, foi descoberto, pelo Portal da Transparência, que o governo federal já gastou, desde 2009, R$ 9,6 milhões com essa empresa, no programa específico de combate à incêndios florestais e controle de queimadas. O valor do aluguel do avião já poderia ter comprado quase três aeronaves.
Para o professor e doutor do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal de Rio Grande, Marcelo Dutra da Silva, o cenário fica ainda mais preocupante porque ele acredita que um novo incêndio, de iguais proporções, deve acontecer em 2018.
“Visto a série histórica de incêndios na região, acredito que em 2018, teremos outro grande incêndio. E não acredito que até lá se vá fazer algo que elimine e reduza a possibilidade de novo incêndio”, lamenta Silva.
Logo que o último incêndio acabou, o professor tentou iniciar um estudo no Taim com implantação de estações meteorológicas para analisar as variações do tempo. De início, o governo deu sinal positivo, mas depois voltou atrás com a justificativa de falta de verba.
“A sociedade está perdendo tempo. O governo decidiu não fazer nada, poderíamos ter uma série histórica e não temos, não estamos aprendendo nada com a realidade de lá”, critica o professor.
Só neste mês foi enviada uma técnica para começar o levantamento que dará base ao plano de manejo, uma espécie de manual de instruções que dirá o que fazer caso haja um novo incêndio. O manual, em si, só deve começar a ser feito no fim deste ano e ficar pronto em 18 meses. Ou seja, somente depois de três anos e meio do maior incêndio do Taim haverá alguma orientação.
“A gente nunca acha que o calendário está bom. Mas isso é uma amostra de como o ambiente é tratado no Brasil: as unidades representam 10% do território nacional, são mais de 300 unidades de conservação e, no entanto, temos apenas 0,5% do orçamento”, argumenta Ilha.
As únicas mudanças implantadas até agora são a doação de um terreno para construção de uma pista de pouso ao lado do banhado e a garantia pela sociedade local de conseguir um avião agrícula, de pequeno porte, para as primeiras chamas.
Entenda o caso
De 26 de março de 2013 a 03 de abril de 2013, a reserva ecológica do Taim foi atingida pelo maior incêndio de sua história. Foram queimados 5,6 mil hectares. Na época, ficou evidente que a reserva necessitava de maior estudo – para entender quando um fenômeno parecido voltaria a ocorrer –, maior rapidez na chegada de aviões de grande porte e criação de um plano de manejo, uma espécie de manual que diga, entre outros assuntos, o que fazer em casos incêndio. Nenhuma dos três grandes demandas foi atendida até o momento.