Zero Hora teve acesso à íntegra - áudio e imagem - da gravação, que no total tem 28 minutos, de uma briga familiar em que Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, recebe veladas ameaças da madrasta Graciele Ugulini, em casa, em Três Passos.
As imagens mostram que, quando o menino começou a gritar por socorro, o casal - Graciele e Leandro Boldrini - estava no quarto, com a meia-irmã de Bernardo.
Boldrini levanta da cama assim que o filho grita, e sai. Aparece na imagem a mão de Graciele mexendo em uma coberta, provavelmente na tentativa de encobrir o celular. O aparelho que grava as imagens e som pertence ao médico. Ao longo dos minutos de gravação, Boldrini fala com o filho no que parece ser uma tentativa de mediar a briga dele com a madrasta.
Por mais de uma vez Bernardo repete:
- Eu quero me matar!
Veja as imagens:
Enquanto o menino grita e é xingado, Graciele também dedica atenção à filha de um pouco mais de um ano, que está na cama, a chama de "meu amor" e é possível ouvir o som de um beijo. Com voz carinhosa, ainda brinca com a menina.
Durante a discussão, Boldrini medicou o filho. Ao final da gravação, Bernardo está com a voz grogue, mas ainda repete que querem matá-lo. Ao final do vídeo, a madrasta sussurra:
- Trouxa, retardado.
A existência da gravação foi revelada na terça-feira, durante depoimentos na primeira audiência do caso.
A polícia e o Ministério Público consideram que o vídeo reforça a convicção das autoridades de que Boldrini sabia e participou do assassinato do filho. As imagens foram recuperadas por peritos do Insituto-geral de perícias (IGP).
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Veja a transcrição do áudio do vídeo:
Bernardo: Socorro! Socorro! Socorro! Socorro!
Leandro: Vai te acalmar, e vai pro teu quarto.
Bernardo: Socorro, me tirem daqui. Socorro (vários gritos)!
Leandro: Respeita tua irmã, Maria, aqui.
Bernardo: Socorro!
Leandro: Respeita tua irmã.
Bernardo: Socorro!
Leandro: Ela tá escutando tudo isso que tu tá falando.
Bernardo: Socorro (vários gritos)! Meu pai me agrediu!
Graciele: Fecha a porta!
Bernardo: Eu quero denunciar, empresta o telefone. Empresta, eu quero denunciar.
Leandro: Quem manda sou eu...
Bernardo: Eu quero denunciar. Empresta!
Leandro: Ou tu entra ou tu sai e chora, e se tu entrar tu vai falar baixo.
Bernardo: Empresta o telefone agora. Empresta! Empresta o telefone, Empresta o telefone agora! Quero, empresta, tu falou que eu podia denunciar, então empresta. Empresta!
Leandro: Tchê, a Maria...
Graciele: Vai lá, vai até lá...
Bernardo: Empresta...
Graciele: Sim, quer o telefone emprestado pra denunciar? Ah, tá... (risada).
Bernardo: Empresta, empresta!
Graciele: Quer denunciar, se vira. Não empresto, te vira!
Leandro: Ó, não dá pra abrir, olha aqui a Maria, rapaz. Escuta aqui ó. Que bagunça é essa.
Bernardo: Eu vou denunciar... Socorro!
Leandro: E fecha a porta, né.
Bernardo: Viu, as pessoas tão olhando. As pessoas tão olhando...
Graciele: Então vai lá, vai lá pedir socorro, vai lá.
Leandro: Vai lá.
Graciele: Tu que tá pedindo. Tu que tá gritando.
Leandro: Quem é que começou a bagunça?
Bernardo: Vocês me agrediram, tu me agrediu.
Graciele: E vou agredir mais... A próxima vez que tu abrir a boca pra falar de mim, eu vou agredir mais.
Leandro: Xingando ela... Ninguém merece ser xingado, né, rapaz.
Graciele: Eu vou agredir mais. Eu não fiz nada em ti.
Bernardo: Fez sim. Tu me bateu.
Graciele: (Risada). Tu não sabe do que eu sou capaz de fazer.
Bernardo: Tu me bateu.
Graciele: Tu não sabe.
Bernardo: Tu me bateu!
Graciele: Eu não tenho nada a perder, Bernardo. Tu não sabe do que eu sou capaz. Eu prefiro apodrecer na cadeia do que ficar vivendo nesta casa contigo incomodando. Tu não sabe do que eu sou capaz.
Bernardo: Queria que tu morresse.
Graciele: Tu não sabe do que eu sou capaz. Vamos ver quem tem mais força. Aí nós vamos ver quem tem mais força. Ah, nós vamos ver quem tem mais força.
Bernardo: Queria que tu morresse.
Graciele: É, então nós vamos ver quem vai para baixo da terra primeiro.
Bernardo: Tu. Tu vai!
Graciele: Então tá, se tu tá dizendo.
Bernardo: Tu vai, sim, tu vai.
Graciele: Vamos ver quem vai primeiro.
Leandro: Bah, Bernando, eu fico com pena de ti. Fico com pena de ti, cara. A tua mãe te botou no mato, cara. Deus o livre, te abandonou.
Bernardo: E tu traiu ela.
Leandro: O moleque ainda tem isso na cabeça.
Graciele: É, ela que andava com tudo que é homem aí, ó. Ela que era vagabunda, Bernardo.
Bernardo: Não era. Minha mãe não era vagabunda.
Graciele: Então vai perguntar pras pessoas da cidade o que a tua mãe fazia. Pergunta.
Bernardo: Ela não era vagabunda.
Graciele: Então pergunta pras pessoas da cidade o que tua mãe fazia pro teu pai.
Leandro: Eu sei que tua mãe era o máximo pra ti, mas simplesmente ela te abandonou.
Bernardo: Não, ela não me abandonou. Tu estava brigando com ela...
Graciele: Ela que tentou matar o teu pai.
Bernardo: Porque ele tava incomodando ela.
Graciele: É, é..
Leandro: Foi lá na vila com o cara, comprou uma 38, foi lá no consultório com duas balas...
Bernardo: Ela devia ter te matado mesmo. Tinha que te ter matado mesmo.
Leandro: E o que ia sobrar de ti?
Bernardo: Tinha que ter te matado.
Leandro: O que eu que tenho que ver, cara? Eu tenho que pagar a minha vida por causa de gente à toa? Gente que não presta?
Bernardo: Tomara que tu morra, e essa coisa aqui morra junto.
Graciele: Tu vai ir antes. Doente do jeito que tá desse jeito. Igual tua mãe, teu fim vai ser igual tua mãe.
Bernardo: Não!
Graciele: Então tá.
Leandro: Eu salvo uns quatro ou cinco todo dia e tiro as pessoas de dentro do caixão, passam uma ou duas semanas caminhando lá no consultório.
Bernardo: Não tira!
Leandro: Eu acho que eu tenho uma função nesse mundo.
Bernardo: Morrer, mas tem que morrer.
Leandro: Eu morro a hora que Deus quiser.
Graciele: A hora que Deus quiser (risada).
Leandro: A hora que Deus quiser. Não é pela tua boca.
Bernardo: Tu vai morrer.
Leandro: Me respeita.
Bernardo: Eu vou rezar pra tu morrer.
Graciele: Então reza, começa agora. Te ajoelha aí, ó.
Leandro: Vai ficar 20 anos... Quanto mais tu rezar pra mim morrer, pior vai ser, porque mais eu vou durar.
Bernardo: Eu quero que tu morra! Aquele dia eu...
Leandro: Quem foi?
Bernardo: Não te interessa!
Leandro: É, é "froinha", que não é capaz de falar. Se fosse macho falava.
Bernardo: A polícia!
Graciele: Vai lá então. Vamo! Desce lá.
Bernardo: Não!
Leandro: Ó, vou falar com eles...
Graciele: Desce lá. Vai, vai lá, Bernardo. Não, vai, deixa ele!
Bernardo: Não.
Graciele: Deixa ele.
Bernardo: Tu me agrediu, tu me agrediu.
Graciele: Vai lá, Bernardo, vai lá.
Bernardo: Eu vou falar, ó, eu tenho uma a... aqui. Eu tenho uma... aqui.
Graciele: Vai indo, vai. Cagão. Ô cagão. Ô cagão, desde lá cagão. Cagou nas calça. Cagou nas calça.
Bernardo: Vamo, apura.
Graciele: Como, vamo? Cagão, vai atrás do teu pai? Vai lá macho. Vai lá cagão.
Bernardo: Meu pai me agrediu.
Graciele: Vai, vai dizer então, vai cagão.
Bernardo: Tu me bateu, tu me bateu. Tu me agrediu!
Leandro: Ó, eu faço tudo que é coisa certa, tem polícia na frente da minha casa sábado de noite, né.
Graciele: É, aham.
Bernardo: Tu me bateu também.
Graciele: É um cagão, ó, agora vai de atrás do papai, né. Cagão.
Leandro: Vamos conversar...
Bernardo: Tu me bateu... Conta que tu me bateu...
Leandro: É esse aqui que eu te disse. É esse remédio aqui que eu te disse.
Bernardo: Eu quero me matar.
Leandro: Precisa de uma água... Quantos quilos que tu tem?
Bernardo: Não sei...
Leandro: Umas 20 gotas.
Graciele: Sessenta gotas.
Bernardo: Eu vou me matar, eu vou...
Graciele: Dá uma faca, Leandro.
(Bebê chora)
Graciele: O quê? O que, meu amor? O quê? Tá frio, né, mimosa? Tá frio, tá frio.
Bernardo: Meu pai tá mandando eu dizer...
Leandro: Eu não mandei.
Bernardo: Tu disse.
Leandro: Você sabe o que tá fazendo.
Bernardo: desculpa, Kelly.
Leandro: Você sabe o que tá fazendo.
Gracile: Que seja a última vez, Bernardo.
Bernardo: Não, eu quero me matar...
Graciele: Trouxa. Retardado esse guri. Um louco, um louco.
Graciele: O que a polícia disse?
Leandro: Disse que ia acontecer, que é pra ligar pra lá.
Como teria ocorrido o crime: