A reforma do edifício Saraí, no Centro Histórico de Porto Alegre, deve demorar, no mínimo, dois anos. A previsão é da Secretaria Estadual de Habitação e Saneamento (SAHEBS-RS). Até a noite desta quarta-feira (9), 24 famílias ainda ocupavam o local, o que corresponde a cerca de 70 pessoas. Na última sexta (4), o Piratini decretou a desapropriação do imóvel, localizado na Rua Caldas Junior, e declarou o edifício Saraí como bem de interesse social, o que destina o prédio às políticas de habitação do Governo do Estado. O titular da SAHEBS, Marcel Frison, ressalta que, embora definida a destinação do edifício, o Estado precisa escolher como e quem fará a reforma do local:
“Nós ainda não definimos o caminho que nós vamos tomar para fins de moradia. (...) Se nós vamos contar com recursos do Governo Federal, se nós vamos usar recursos próprios, se nós vamos fazer uma parceria com uma cooperativa. Enfim, decidido o que for feito, o processo tem um trâmite”, esclarece.
O secretário Marcel Frison acredita que esta escolha deve ser feita em até 60 dias. O valor do imóvel, que terá de ser pago pelo Governo do Estado ao proprietário do edifício Saraí, será determinado pela Justiça. O Piratini oferece R$ 1,9 milhão pelo prédio de sete andares, mas o dono do local rejeita a proposta.
Ocupação e desocupação
O titular da SEHABS, Marcel Frison, defende que a desocupação do prédio foi estabelecida em acordo e sem a necessidade de notificar a coordenação do Movimento Nacional de Luta pela Moradia em Porto Alegre (MNLM). A líder do movimento, Ceniriani Vargas da Silva, diz que as famílias estão sendo cadastradas para receber o aluguel social de R$ 400 e a desocupação do local deve ser concluída até o final deste mês. A coordenadora do MNLM avalia como positiva a mobilização no Saraí:
"É uma vitória importante já que se trata de uma luta de mais de nove anos. (...) Uma luta de tantos anos por construção de moradia popular no Centro, uma luta importante de se fazer também quando a gente avalia que, hoje, a política habitacional é de cada vez mais empurrar a população para mais longe, onde não tem estrutura, e, ao mesmo tempo, a gente tem imóveis vazios no Centro", relembra.
Ênio Silveira, de 50 anos, integra o movimento que ocupa o edifício Saraí desde agosto de 2013 e atua, voluntariamente, como porteiro do prédio. Ênio diz que está receoso em deixar o local e não ter garantia de que poderá voltar depois:
“Eu tenho minha filha e minhas netas. Não adianta eles dizerem que vocês vão para tal lugar e depois, talvez, voltem. Nós queremos aqui”, lamenta.
Gaúcha
Após decreto, reforma do edifício Saraí deve demorar mais de 2 anos em Porto Alegre
Vinte e quatro famílias seguem no local e pretendem desocupá-lo até o final deste mês
Cristiano Goulart
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