Coroinha da Igreja da Matriz de Três Passos, o menino Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, foi homenageado na noite deste domingo com uma missa no local que frequentou durante boa parte de sua curta vida na cidade. Em tom forte, o padre Rudinei da Rosa disse que "monstros existem, mas no final sempre são vencidos".
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Cerca de 1,2 mil dos 24 mil habitantes de Três Passos estiveram presentes para lembrar Bernardo numa Páscoa marcada pela tristeza em uma comunidade que se mostra abalada pela tragédia familiar. A missa tornou-se um ato silencioso de indignação com um crime que choca o Brasil.
- Onde é que aprendemos a ser tão cruéis? Todos não sabemos por que aconteceu aqui. Eles o mataram pregado na ausência do afeto. A busca por justiça é humana - afirmou Rudinei da Rosa.
Dezenas tiveram de acompanhar a missa ao lado de fora e em pé.
- A família chora a perda de um de seus filhos. Por quê? Como é possível? Que mundo é esse que vivemos? Praticar o mal é sempre uma decisão humana - disse o padre.
Bernardo já tem o rosto estampado em camisetas, usadas por crianças que nem ele. Abraçadas e cabisbaixas, as famílias de Três Passos começaram a reconstruir seus cotidianos sem a presença do menino querido por todos e que, até um mês atrás, estava vestido com os trajes religiosos no altar da Igreja da Matriz, a mesma que agora busca forças para superar sua ausência.
No final da missa, uma mensagem foi dirigida para o menino:
- Temos presente em nossa memória teu sorriso e os sonhos que tinha para o futuro. Sempre serás uma pessoa especial, honraremos tua memória buscando justiça. Estarás para sempre em nossos corações.
Protesto
Depois da missa, centenas de pessoas saíram em caminhada em direção à casa de Bernardo (veja as fotos abaixo), localizada no bairro Santa Inês, e levaram velas. Acompanhados pela Brigada Militar, eles cantaram em frente à residência, tomada por cartazes de lembrança ao garoto e ofensas ao pai, à madrasta e à assistente social suspeitas de cometer o crime.
Relembre o caso
Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, em Três Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugolini, 32 anos, para comprar uma TV.
De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia. Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.
Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.
Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o médico Leandro Boldrini - que tem uma clínica particular em Três Passos e atua no hospital do município -, a madrasta e uma terceira pessoa, identificada como Edelvania Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo. O casal aparentava uma vida dupla, segundo relatos de amigos e vizinhos.