Mais de 4 mil militares do Exército e da Marinha serão a ponta-de-lança da maior ofensiva já realizada no país contra o crime organizado. Ela deve acontecer dia 7 de abril, com a ocupação do Complexo da Maré, conjunto de 11 favelas situadas à beira-mar, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
A região é considerada estratégica pelo comando das Forças Armadas e também pelo governo fluminense, por estar situada entre as três principais vias expressas da cidade (a Linha Vermelha e a Avenida Brasil, que cortam a capital fluminense de Norte a Sul, e a Via Amarela, que faz a ligação leste-oeste). As comunidades alvo da ocupação também ficam próximo ao campus principal da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ao aeroporto Tom Jobim (antigo Galeão).
A data aproximada das ações (que podem durar até dia 10) foi traçada pelo Comando Militar do Leste (CML), em colaboração com o Ministério da Justiça e Secretaria da Segurança Pública do Rio. PMs, policiais civis, federais e integrantes das Forças Armadas usarão inclusive blindados para garantir a ocupação do terreno, hoje uma fortaleza disputada por três facções criminosas: traficantes do Comando Vermelho (CV), seus rivais do Terceiro Comando Puro (TCP) e uma milícia formada por ex-policiais e policiais aposentados. O CV domina as principais favelas da Maré, como a Nova Holanda. Moram no complexo cerca de 130 mil pessoas.
Se confirmado, a requisição de 4 mil militares das Forças Armadas vai superar a maior mobilização do gênero já registrada, a ocupação do Complexo do Alemão (outro reduto do CV), em 2010. Os militares vão embasar suas ações no manual de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), atualizado no fim do ano passado. Por meio desse instrumento, o Exército se investe de poder de polícia para patrulhar, efetuar prisões e revistar casas. É uma espécie de mandado de busca e apreensão coletivo, escorado na alegação de necessidade de restabelecer a ordem num local conflagrado.
A ocupação é uma resposta a sete ataques recentes a Unidades de Polícia Pacificadora, bases comunitárias da PM que representam uma experiência inovadora em nível nacional. Os atentados resultaram na morte de quatro policiais e na elevação do nível de tensão em áreas que já tinham sido pacificadas. Eles seriam represália do tráfico à ocupação de suas bocas-de-fumo pela polícia. que tem tudo para se repetir nas próximas semanas.