Era uma vez, Grace Maher rodopiando pela casa em trajes de princesa da Disney, uma cena de paetês, tiaras e rosa.
Ela agora tem oito anos e abandonou tudo isso. O único rosa que sobrou está em seu novo arco e flecha.
Esse seria o seu Arco Dourado Exclusivo, Destruidor de Corações Nerf Rebelle da Hasbro, uma arma cor de petúnia com ornamentos dourados e brancos que atira dardos coloridos feitos de espuma. Esqueça Ariel, a linda princesa sereia. O novo exemplo de Grace é Katniss Everdeen, a caçadora/sobrevivente na trilogia do livro e do filme Jogos Vorazes.
As heroínas das meninas estão mudando rapidamente, e a indústria de brinquedos está lutando para não ficar para trás.
Os fabricantes de brinquedos começaram a comercializar uma linha mais competitiva de brinquedos e armas para meninas - inspirados na sucessão de heroínas guerreiras como Katniss, a Viúva Negra de "Os Vingadores", em Merida de "Valente" e agora, em Tris, do livro e novo filme "Divergente" - mesmo quando a indústria ainda se prende aos tons de rosa.
O resultado é uma seleção de brinquedos que, estranhamente, tanto desafiam as noções antiquadas quanto brincam com elas de forma profunda.
A linha Rebelle, lançada no ano passado, chegou nas cores rosa, roxa, branca e dourado, e as armas têm nomes - como a Destruidora de Corações e a Paixão Rosa - que são o bastante para tirar suspiros de uma mãe iluminada do século 21. Porém, cerca de uma dúzia de novos brinquedos na linha será lançada esse ano.
Os arcos das caçadoras aéreas e os estilingues da Zing (slogan: preparar. apontar. poder feminino!), há pouco mais de um ano no mercado, são responsáveis por mais de um quarto das vendas da empresa. A "caça chitas", com ação a ar, da Marshmallow Fun Co., é banhada em rosa claro com manchas escuras e o brinquedo atira miniaturas de marshmallows.
Barbie, sempre linda e loira, naturalmente entrou em ação com uma boneca de Katniss autenticamente morena portando um arco e flecha. As prateleiras dos heróis de ação nas lojas de brinquedo agora exibem a figura de uma Viúva Negra (que teve Scarlett Johansson como modelo) lado a lado do novo Capitão América.
O último jogo Skylanders da Activision, o Swap Force, apresenta a Ninja Stealth Elf, a Roller Brawl e a Smolderdash, todas elas em condições iguais aos seus colegas masculinos. E Stella, uma Angry Bird feminina, em breve ganhará o seu próprio aplicativo móvel e acessórios, de forma que ela possa se produzir e se lançar ao ar para destruir as fortalezas dos porcos.
A estreia do filme Divergente em março só aumenta o frenesi do mercado em torno das garotas armadas. Já que a boneca Tris da Barbie, finalizada com a tatuagem de três corvos, que é a sua assinatura, já está à venda no site da Amazon.
Tudo isso é o bastante para causar vertigem - particularmente nas mães - mesmo no momento da compra. Embora a separação dos brinquedos dos meninos e das meninas em corredores, divididos entre o rosa e a camuflagem, permaneça irritante, alguns também têm dúvidas se suas meninas deveriam adotar os mesmos jogos de guerra que eles toleram, meio que com apreensão, para os meninos.
- Basicamente, sou uma hipócrita total porque é uma arma rosa, mas elas gostam de verdade, e é algo com que brincam juntas, disse Robin Chwatko, cuja filha de três anos ganhou uma Nerf Rebelle há alguns meses por invejar o arco Zing do seu irmão de cinco anos.
Sharon Lamb, psicóloga infantil e ludoterapeuta que ensina psicologia de aconselhamento na Universidade de Massachusetts, em Boston, afirma que os brinquedos que estimulam a agressão fazem bem para as crianças.
- Em minha opinião, isso não torna as meninas mais agressivas, e sim permite que elas saibam que os seus impulsos agressivos são aceitáveis e que elas deveriam ter liberdade de externá-los, disse.
Entretanto, ela acrescentou: - O que eu não gosto é a feminização disso. Os brinquedos precisam ter a cor rosa? Por que não podem ser rebeldes e têm de ser "re-belles"? Por que elas precisam ser atraentes quando agridem, defendem os indefesos ou combatem os vilões?
Carmen Wong Ulrich, cuja filha de sete anos tem dois arcos - um da Merida da Disney e o da Rebelle - não se importa com o glamour. - É isso o que ela é, feminina e cheia de brilhos e adora pegar minha maquiagem, mas ama o herói e ama estar no controle, disse.
Na Zing, que começou comercializando brinquedos apenas para meninos, a ideia da sua linha Caçadora Aérea surgiu dos clientes em sites como o Facebook e o Amazon - assim como dos funcionários que haviam lido Jogos Vorazes.
Os esforços anteriores dos fabricantes de brinquedos de comercialização dos brinquedos tradicionalmente de meninos para meninas só tiveram sucesso em algumas categorias, como na construção e nos carros guiáveis, disse Jim Silver, o editor chefe do site TimetoPlayMag.com, um site sobre as tendências no mundo dos brinquedos.
Vender heróis de ação para meninas teve menos sucesso, ele disse, apontando a Princesa Tenko e os Guardiões da Mágica da Mattel e a Princesa Guinevere e as Joias Encantadas da Kenner, ambos um fracasso.
Para muitas meninas, as coisas mudaram com a chegada de Katniss. A Zing, cujas vendas dobraram durante as duas semanas em que divulgou no filme "Jogos Vorazes: Em Chamas" em 3.600 salas de cinema, no último outono, planeja divulgar o dobro disso na primeira parte do final da série em dois capítulos, Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1, que será lançada em novembro.
Jill Calderon, 11 anos, estudante do sexto ano, e que mora em Atlanta, está tão apaixonada por Katniss que ela e suas amigas brincam de Jogos Vorazes no recreio, autenticamente recriado com a riqueza imaginária e a presidência de uma criadora do jogo. Os seus avós ficaram horrorizados com o seu interesse em uma história que gira em torno de crianças lutando entre si até a morte em um mundo distópico, porém a mãe não se incomoda com isso.
- Isso é 'O Senhor das Moscas' com uma protagonista mulher e armas melhores, disse a mãe, Amy Baxter, que foi arqueira na faculdade.
Em uma sessão de teste de brinquedos no Laboratório de Diversão da Hasbro, em Pawtucket, Rhode Island, em março, cerca de 10 meninas na faixa etária entre sete a 12 anos testaram os mais recentes modelos de Nerf Rebelle, inclusive o Jogo de Tiro ao Alvo Estrela. "Bam! Bam! Bam!" berrou Kendall Fisher, de seis anos, agitando uma arma rosa e branca na mão.
Ryan Medeiros, de oito anos, com sapatos e vestido de bolinhas rosa, mostrou ter boa mira ao derrubar pequenos alvos de papelão com a Pistola "Rapid Red" motorizada e o seu pente cheio de dardos.
- Estou sem munição, Ryan anunciou, e se preparou para recarregar.
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