
Quando aprendi sobre grupos sanguíneos e fator RH, numa aula de ciências, a professora Catarina Simon desenhou um esquema no quadro negro, mostrando quem poderia doar para quem. E associou o grupo "O" a altruísmo, porque poderia doar para todos os outros, e o AB a egoísmo, porque recebia de todos mas só doava para os seus iguais. Fizemos os testes e, aos 11 anos, eu soube que era AB positivo.
A ideia de que meu sangue não era lá muito útil, somada ao fato de que até os 30 anos eu pesava menos de 50 quilos, retardou a minha entrada no grupo de doadores voluntários.
Foi depois dos 40 anos que me tornei doadora de sangue na Santa Casa (ou onde houver um parente de amigo precisando). Já doei sangue para um colega que fez transplante de fígado na Santa Casa e plaquetas para um amigo que estava internado no Moinhos de Vento com leucemia. Depois de curado, ele me presenteava com pastéis de belém de uma confeitaria de Petrópolis com a explicação de que era para ajudar a produzir "sangue bom".
Lamento não ter começado antes, mas espero compensar o tempo perdido estimulando outras pessoas a se tornarem voluntárias. Não é preciso esperar o chamado de um conhecido: seu sangue será sempre bem-vindo e poderá salvar a vida de um paciente em cirurgia, de uma criança com leucemia ou de um ferido em acidente de trânsito.
Para celebrar o dia nacional da doação de sangue, resolvi mostrar em vídeo o quanto é simples e indolor o processo. O fotógrafo Lauro Alves documentou cada passo, enquanto a diretora do Banco de Sangue, Mirna Barison, ia esclarecendo minhas dúvidas sobre prazo de validade e condições para ser doador. Não vi passarem os oito minutos - tempo que dura a coleta. Evitei olhar para a agulha, que, afinal, não sou de ferro.
Daqui a seis meses, voltarei à Santa Casa para doar mais 450ml. Hoje, quero apenas compartilhar essa experiência de "receptora universal" que até agora, felizmente, nunca precisou de transfusão.