O Brasil tem um novo felino. A descoberta, anunciada nesta quarta-feira, consolida ainda mais o país como hospedeiro da maior diversidade de espécies de gatos silvestres no mundo.
O estudo conjunto de cientistas da PUCRS, da UFRGS e da Universidade Estadual do Maranhão comparou o genoma do mato-do-gato-pequeno com o de... outros gatos-do-mato-pequenos. Resultado: foram identificadas duas espécies diferentes, uma habitante das regiões Sudeste e Sul do país, a outra originária do Nordeste.
O nome científico Leopardus tigrinus ficou com o gato nordestino, recém-descoberto, enquanto o gato sulista, que já era conhecido, teve de ser rebatizado: a partir de agora, ele se chama Leopardus guttulus.
Achava-se que os dois bichos eram o mesmo porque, bem, eles são muito parecidos.
- As diferenças não se manifestam claramente no fenótipo. Os do Nordeste têm pelo mais claro, rosetas menores, mas são diferenças sutis, do tipo que normalmente encontramos dentro de uma mesma espécie - diz Eduardo Eizirik, do Laboratório de Biologia Genômica e Molecular da Faculdade de Biociências da PUCRS.
Se eram 10 as espécies identificadas de felídeos neotropicais, agora são 11 - todas encontráveis na América do Sul. Agora também se sabe que o Brasil, que abrigava oito delas, serve de casa para pelo menos nove espécies. Dentro do país, a maior diversidade ocorre na Região Sul - até a descoberta do Leopardus tigrinus nordestino, o Rio Grande do Sul tinha todas as espécies.
- Aqui no Sul há o encontro de espécies tropicais, que ocorrem em florestas e ambientes quentes, com as de ambientes frios e abertos, como o gato-palheiro e o gato-do-mato-grande. Estamos no limite sul da Mata Atlântica e no limite norte do Pampa - explica Eizirik.
Apesar da larga distribuição, as populações dessas espécies vêm diminuindo, e praticamente todas estão ameaçadas de extinção. Atualmente, a maior causa do declínio da população de felídeos silvestres na natureza é a destruição e fragmentação do seu habitat em consequência do desenvolvimento agrícola e pecuário, da exploração da madeira e mineração, das construções de represas e hidrelétricas, além do trafico ilegal e da perseguição direta em forma de caça e abate.
Eizirik comenta que a situação das onças-pintadas e de outros felinos grandes "é crítica, pior em termos de conservação do que os pequenos".
- Tu precisas de menos área para sustentar uma população de gato-do-mato-pequeno, por exemplo. Se sobrou área de Mata Atlantica, é possível que sustente certa quantidade desses animais, que vivem até em áreas próximas de Porto Alegre. Já a onça-pintada está praticamente extinta no Estado, e o nosso alerta é que o Rio Grande do Sul não está sozinho. Em toda a costa brasileira está havendo declínio das onças - afirma, acrescentando que a extinção da onça afetaria todo um ecossistema, já que o animal desepenha funções ecológicas no seu ambiente.
Segundo Eizirik, apesar de as perspectivas futuras não serem boas, é possível reverter as tendências atuais.
- Temos de reverter a estrutura de como os humanos interagem com recursos naturais, com o lixo, o consumo e a geração de energia. Temos de pensar nos impactos que causamos. É necessário e bom que a humanidade amadureça - diz o geneticista.
Recentemente,o zoológico de Gramado recebeu do Ibama de Bagé um filhote de gato-palheiro, o que completaria a sua "coleção" de espécies de felídeos neotropicais brasileiros. Agora, fica faltando o "novo"Leopardus tigrinus. Confira abaixo fotos dos felinos ao abrigo do Gramadozoo.
Dois em um
Pesquisadores descobrem nova espécie de gato silvestre
Brasil é hospedeiro da maior diversidade de felídeos neotropicais do mundo
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