Inovar na educação passa por permitir aos alunos que explorem e desenvolvam suas habilidades de modo a se tornarem capazes de lidar com os desafios que enfrentarão no futuro.
Baseado nesta ideia, o professor inglês Richard Gerver desenvolveu o projeto Grangeton - que criou uma pequena cidade dentro da escola primária Grange, em Derbyshire, Inglaterra - que salvou sua escola do fechamento por melhorar os índices de aprendizado.
O educador será um dos 16 palestrantes do TEDx Unisinos, que ocorre hoje, em Porto Alegre. Entre 8h45min e 16h, no Teatro do Bourbon Country, serão apresentadas iniciativas educacionais que se tornaram referências mundiais. O evento é parceiro da campanha A Educação Precisa de Respostas e tem o apoio da Fundação
Mauricio Sirotsky Sobrinho.
Em escala reduzida, a cidade de Grangeton funciona como uma sociedade real, com prefeitura, lojas, cinema, jornal, estúdio de TV, estação de rádio, museu e café - todos comandados e direcionados aos estudantes.
Pelo projeto, Gerver recebeu o prêmio do governo inglês School Head Teacher of the Year Award, em 2005. No ano seguinte, o trabalho foi celebrado na Conferência Mundial de Educação Artística da Unesco. Em entrevista a Zero Hora, Gerver comenta como a inovação deve ser encarada pelas escolas.
Zero Hora - O projeto Grangeton criou uma cidade para desenvolver habilidades dos estudantes desde cedo, fazendo com que tenham funções em uma sociedade reduzida, estruturada como a real. Por que e como este projeto ajudou crianças a alcançar níveis mais altos em educação?
Richard Gerver - Porque deu um propósito ao aprendizado dos estudantes, em que eles podiam ver como suas habilidades e seus conhecimentos eram aplicados em contextos reais, ao contrário de um simples exercício acadêmico abstrato.
ZH - Qual foi o papel do professor durante as aulas em Grangeton? Como eram ensinadas as operações matemáticas básicas, leitura e escrita?
Gerver - Eles ainda foram ensinados em pequenos grupos, mas essas habilidades foram imediatamente reforçadas com aplicações na vida real, como nas lojas dirigidas pelas crianças. O importante com essas habilidades principais é fazer com que os estudantes as apliquem em contextos da vida real, para que possam ser absorvidas e aplicadas em diversas situações.
Zero Hora - Como os pais reagiram à ideia do projeto Grangeton? Eles deram apoio desde o início? Como a escola lidou com pais que queriam resultados, dizendo
que seus filhos não estavam aprendendo nada?
Gerver - Os pais deram um apoio incrível, nós não implementamos tudo em um dia, o fizemos ao longo do tempo e incluímos os pais em todas as etapas, eles viram o objetivo e o valor do aprendizado aplicado. Além disso, seus filhos chegavam em casa
entusiasmados com a escola e estavam fazendo claramente um progresso extraordinário. Não esqueça que nosso resultado acadêmico dobrou em dois anos!
Zero Hora - O currículo de escolas tradicionais está estruturado em áreas separadas, que raramente se relacionam com as outras. Há uma maneira efetiva de introduzir esse sistema de ensino fragmentado no mundo digital, no qual o conhecimento é fortemente
relacionado?
Gerver - É necessário criar uma linha temática em que se juntam essas áreas distintas, como fizemos no Grange.
ZH - Talvez o medo seja o maior inimigo da mudança e da inovação. Como as escolas podem diminuir esse medo e correr o risco de fazer algo diferente para desenvolver
a educação?
Gerver - Temos de lembrar que nossa responsabilidade moral é preparar nossas crianças para seus próprios futuros,não para nosso bem-estar. Eu costumava falar para a minha equipe que faríamos somente o que é certo para as crianças. Se alguém provasse que havia maneiras melhores para as crianças, o faríamos, em outros
casos, não teria discussão. Muitas vezes, as escolas fazem o que é melhor para os adultos na comunidade, não o que é certo para as crianças.
Zero Hora - Em países como o Brasil, onde a distribuição de riquezas é desigual, há escolas muito ricas e outras muito pobres. Como os educadores devem lidar com a
inovação em ambas realidades?
Gerver - Precisamos nos focar em um núcleo de habilidades, não em conteúdos, que todas nossas crianças devem ter a chance de desenvolver. Países como o Brasil, e qualquer outro, devem lembrar que a próxima grande pessoa, com uma próxima grande
ideia, pode nascer em qualquer família, e os países só conseguem maximizar o potencial dela se trabalharem com cada criança, em cada comunidade, para encontrar talentos.