Cidadão já em fuga Guaíba adentro (Foto: Augusto Turcato/Agência RBS)
Que o chutão desferido sem rumo no treino do Inter ao lado do Guaíba fosse parar cerca de 10 metros para dentro da água, tudo bem. Não raro os balões dos jogadores profissionais se sobrepõem à tela de cinco metros de altura, voam sobre as copas das árvores da beira do rio e aterrissam na água.
Os flautistas: a explicação para o furto da bola no Guaíba
Confira o vídeo do momento do furto
Mas, na manhã desta sexta, um remador gremista apareceu de súbito dentro de um caiaque e a um só golpe resgatou a bola, colocou-a no colo e sumiu no horizonte em direção a Guaíba. Fez flauta. E um furto.
Não adiantou o funcionário do Inter implorar aos gritos pela devolução. Ao contrário, o torcedor ainda fez graça, retirou a camiseta do Grêmio que vestia e acenou com ela fazendo aparecer o símbolo tricolor.
O repórter Rodrigo Oliveira, da Rádio Gaúcha, que fazia a cobertura do treino, desconfiou da pressa do remador e passou a gravar a cena.
- Ele colocou velocidade no remo, achei estranho. Não faria aquilo se fosse entregar a bola - disse Oliveira.
Depois, o remador maluco venceu dois quilômetros e contornou a ilha de frente ao Beira-Rio e sumiu com o produto do seu furto.
- Este cara transita pela Vila Cristal e já foi visto com o jaleco do Grêmio perto das escolinhas - garantiu um funcionário do Sava Clube, na Avenida Guaíba, na Zona Sul.
No Grêmio, porém, ninguém o conhece. Nas escolinhas, funcionários antigos não o reconhecem. No bairro Cristal, moradores suspeitam de que seja um pescador da região.
- Nem tão rico que seja sócio de clube, nem tão pobre que more em vila - disse um deles.
Com um caiaque de 2m50cm de comprimento, de fibra, típica embarcação de passeio, o aventureiro não é dos que praticam esporte nos clubes de vela. A embarcação é um modelo antigo, custa cerca de
R$ 200. Deixou de ser fabricada porque emborca com facilidade e provoca acidentes graves.
- Não é do tipo competitivo, já não se usa este modelo há muito tempo - explicou o professor de vela Jaime Fonseca, do Sava.
Atrás de tudo está um pequeno contingente de bolas que se perdem no Guaíba. Se o funcionário não chega a tempo de retirá-las, ou se a correnteza as conduz para o fundo, em seguida elas são resgatadas por quem passa ou por quem fica à espreita.
As que os profissionais usam custam cerca de R$ 300 cada.
Em dias de vento leste, como nesta sexta, os chutões param ainda mais longe no Guaíba - e é aí que surge a ação dos tripulantes de acaso.
Nos campos das escolinhas do Grêmio, em frente ao BarraShoppingSul, não há tanto desperdício de bolas. Primeiro, porque os garotos não têm força suficiente de espantar a bola tão longe; depois, porque há uma boa margem até o Guaíba.
No CT do Inter, são perdidas pelo menos cinco bolas por semana. Está aí um bom mercado paralelo.
Remador sorri para a foto com a bola (Foto: Augusto Turcato/Agência RBS)