O filme que inaugura nesta sexta-feira a 41ª edição do Festival de Cinema de Gramado narra em tom de melodrama o amor entre duas mulheres incomuns - mas, segundo o diretor Bruno Barreto, o tema de seu longa é, na verdade, a perda. Flores Raras, que será exibido fora da competição, é estrelado por Glória Pires - atriz homenageada na noite desta sexta com o Troféu Oscarito.
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Estrela que o público literalmente viu crescer na tela da TV - sua estreia foi aos cinco anos, na novela A Pequena Órfã (1968) -, Glória Pires receberá nesta sexta, no palco do Palácio dos Festivais, o prêmio com o qual o Festival de Gramado celebra grandes nomes do cinema nacional. Se o rosto da atriz ficou marcado no imaginário popular por conta de seus trabalhos televisivos, a carreira no cinema vem cristalizando ao longo dos anos o talento da intérprete: depois de debutar com Índia, a Filha do Sol (1981), Glória atuou em longas como Memórias do Cárcere (1984), O Quatrilho (1995), A Partilha (2001), O Primo Basílio (2007) e os dois sucessos de bilheteria da série Se Eu Fosse Você.
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Antes de viver a mãe do ex-presidente na cinebiografia Lula, o Filho do Brasil (2010), Glória encarnou uma mulher emocionalmente instável em É Proibido Fumar (2009) - papel que lhe rendeu prêmios como o de melhor atriz no Festival de Brasília. Já em Flores Raras (2013), drama romântico que entra em cartaz nos cinemas na próxima sexta-feira, Glória interpreta Lota de Macedo Soares (1910 - 1967), paisagista e urbanista autodidata, figura de destaque na vida social e cultural do Rio de Janeiro entre as décadas de 1940 e 1960 e uma das responsáveis pelo grandioso projeto do Parque do Flamengo.
O 19º longa-metragem do cineasta Bruno Barreto - diretor de filmes como Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), durante muito tempo o maior êxito do cinema brasileiro - concentra-se no relacionamento de Lota com a poeta americana Elizabeth Bishop (1911 - 1979). Flores Raras mostra com sensibilidade como a presença no Rio da ganhadora do Prêmio Pulitzer de 1956 abalou o relacionamento de Lota com sua amante, a dançarina americana Mary Morse (papel de Tracy Middendorf). Na pele da psicologicamente frágil e alcoolatra Bishop, está a australiana Miranda Otto - atriz de filmes como Além da Linha Vermelha (1998), Guerra dos Mundos (2005) e a trilogia O Senhor dos Anéis.
- A questão do amor homossexual não era a razão para eu fazer esse filme. O fato de Bishop morar no Brasil também não me dizia grande coisa. Mas daí encontrei sobre o que queria falar: a perda. Tanto que o título que eu queria era A Arte de Perder (título de um poema escrito por Elizabeth Bishop). Minha preocupação era como tratar a questão desse amor homossexual sem dar o valor excessivo a isso, mas também sem desprezar esse dado. O que sustentou essa relação de 15 anos foi um enorme tesão. O que me interessava era mostrar essa história em que a forte vai ficando fraca e a fraca vai ficando forte. Poderia ser uma história entre um homem e uma mulher - explicou Barreto durante a apresentação de Flores Raras para a imprensa.
Já Glória Pires contou para Zero Hora como foi a experiência de contracenar quase todo o filme conversando em inglês com o elenco:
- É difícil falar em inglês porque não é a sua língua, você não tem emoção com ela. Não tem vivência com ela. Muitas coisas que estavam escritas no roteiro não faziam sentido para mim. Fizemos a primeira leitura, e os coachs (treinadores) ficaram impressionados com meu inglês. Esperei 17 anos para fazer esse personagem. Quando nós começamos a filmar, parecia que era exatamente isso o que tinha que acontecer.
Confira alguns destaques da programação deste fim de semana:
Sexta
19h - Entrega do Troféu Oscarito para Glória Pires
Filme de abertura: Flores Raras, de Bruno Barreto.
Sábado
14h - Mostra gaúcha de curtas-metragens - Prêmio Assembleia Legislativa.
19h - Curta nacional: Pouco Mais de um Mês, de André de Novais Oliveira;
Longa estrangeiro: Puerta de Hierro (Argentina), de Dieguillo Fernández e Víctor Laplace.
21h30 - Troféu Cidade de Gramado para Wagner Moura; Curta nacional: Merda!, de Gilberto Scarpa; Longa nacional: Éden, de Bruno Safadi.
Domingo
14h - Mostra gaúcha de curtas-metragens - Prêmio Assembleia Legislativa.
19h - Curtas nacionais: A Navalha do Avô, de Pedro Jorge, e O Matador de Bagé, de Felipe Iesbick.
Longa estrangeiro: El Padre de Gardel (Uruguai).
21h30 - Premiação Mostra gaúcha de curtas-metragens - Prêmio Assembleia Legislativa; Curta nacional: Arapuca, de Hélio Villela Nunes.
Longa nacional: Tatuagem, de Hilton Lacerda.