Os gaúchos dão o seu aval ao polêmico programa Mais Médicos, pelo qual o governo federal estimula a vinda de médicos estrangeiros para atuar em regiões que carecem desses profissionais.
É o que mostra uma pesquisa do Instituto Methodus divulgada neste fim de semana. Foram ouvidas pessoas representativas de todas as classes, escolaridades e regiões.
A pesquisa induzida mostra que, numa escala de 1 a 5 (onde 1 é péssimo e 5 é ótimo), 59,3% dos entrevistados aprovam o programa. Desses, 43,6% acham boa a iniciativa e 15,7%, ótima. Um grupo de 20,9% pesquisados considera a ideia do Mais Médicos regular e 14,5% reprovam o programa (7,9% consideram ruim a iniciativa e 6,6%, péssima).
Os organizadores da pesquisa se mostram surpresos pelo fato de que a maioria está bem informada sobre o programa: 63,8% dos entrevistados ouviram falar do Mais Médicos.
Não só ouviram falar, como sabem do que se trata: questionados de forma espontânea, a maioria dos entrevistados declarou que o objetivo do programa é trazer médicos estrangeiros ao Brasil (43,5% dos entrevistados). Outros 3,2% sabem que a iniciativa acontece em decorrência da falta de médicos no Interior. Alguns entrevistados (0,3%) são críticos e consideram jogada política, outros que é para melhorar a saúde no Brasil.
- Não esperava que tanta gente estivesse informada sobre o programa. Pesquisas sobre outros assuntos costumam apontar desconhecimento muito maior sobre o tema inquirido - comenta a socióloga Margrid Sauer, diretora de pesquisa do Methodus.
O fato de muitos integrantes do programa virem do Exterior parece não importar aos entrevistados. Sobre a vinda de estrangeiros, 69% concordam, 20,5% discordam e 9,3% nem concordam nem discordam. Questionados se se sentiriam seguros em receber atendimento por um médico estrangeiro, 68,1% respondem que sim e 19,3% dizem que não.
Mas nem tudo é aprovado pela população, no Mais Médicos. Dos 448 entrevistados que dizem não se sentir seguros com a vinda de médicos estrangeiros, 48,2% justificam o temor em decorrência da diferente formação desses profissionais e 46,7% pela dificuldade de comunicação (idioma).
Mesmo aprovado o programa, os entrevistados mostram reservas pelo fato de os estrangeiros não terem diploma revalidado no Brasil. Do total de pesquisados, 58,3% afirmam que a falta de revalidação do diploma lhes causaria insegurança ao serem atendidos por um médico estrangeiro. Outros 39,5% não mostram insegurança. Ou seja, o percentual de pessoas que gostaria de ver os estrangeiros submetidos a testes de conhecimento profissional é praticamente o mesmo do que aprova o programa.
- A reprovação é maior entre os que têm renda acima de 15 salários mínimos. Na faixa de um a cinco, 41% consideram o programa ótimo e 40%, bom - comenta Margrid.
Repercussões
"O resultado da pesquisa não nos causa surpresa. Afinal, trata-se de um programa que oferece mais médicos onde existem poucos, compreensível que a maioria seja favorável. O Cremers não é contra o programa, mas contra a falta de exigências qualificatórias para os profissionais. A questão toda é a dispensa da revalidação do diploma, que não poderia acontecer."
Rogério Aguiar, presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremers)
"De um lado, temos poucas pessoas tentando explicar à população as contradições do programa, a falta de exigência de validação dos diplomas dos estrangeiros que virão. De outro, o governo com a mais poderosa máquina publicitária da América Latina. Vemos com satisfação que a população enxerga problemas na não revalidação dos diplomas desses médicos vindos do Exterior."
Paulo de Argollo Mendes, presidente do Sindicato Médico-RS (Simers)
A assessoria de imprensa do Ministério da Saúde diz que o resultado da pesquisa foi encarada de forma muito positiva no governo, mas nenhuma autoridade quis se pronunciar.
Veja o resultado da pesquisa feita pelo Instituto Methodus