O sociólogo Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-secretário de Estado de Direitos Humanos, foi vítima de um sequestro-relâmpago, na manhã desta sexta-feira. Baía foi posto num carro e obrigado a circular pelas ruas do Centro, com quatro homens armados e encapuzados. Ele, que estuda os protestos que eclodiram no país, afirma que foi ameaçado por dar entrevistas a respeito da atuação da Polícia Militar (PM).
Nesta sexta-feira, o jornal O Globo publicou entrevista em que Baía comentava o quebra-quebra no Leblon, na capital fluminense.
- A polícia viu o crime acontecendo e não agiu. O recado da polícia foi o seguinte: agora, eu vou dar porrada em todo mundo - afirmou ao jornal carioca.
O caso foi denunciado à Ouvidoria do Ministério Público (MP) e à chefia de Polícia Civil. De acordo com o procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira, o episódio é "extremamente preocupante":
- Houve uma tentativa de calar uma voz importante no cenário político nacional. Isso fere o Estado Democrático de Direito e causa enorme preocupação. Baía caminhava por volta das 7h30min no Aterro do Flamengo, na Zona Sul, quando foi abordado por dois homens armados, com os rostos escondidos por toucas ninjas e óculos escuros, e as cabeças cobertas por capuzes de moletom. Logo em seguida, um Nissan preto, sem placa, estacionou ao lado deles. O sociólogo foi obrigado a entrar:
- Não dê mais nenhuma entrevista, não cite a Polícia Militar de forma alguma, senão será a última entrevista que o senhor dará.
O sociólogo circulou pelo Aterro, passou pela Avenida Rio Branco e foi deixado em frente à Biblioteca Nacional - um trajeto de 10 minutos.
- O recado está dado - disse um dos homens ao liberar Baía.
- Não estou amedrontado, mas estou sob tensão. É um atentado à minha pessoa, mas também à liberdade de imprensa. O motivador foi a matéria publicada hoje (19) - afirmou Baía, contando que foi a primeira ameaça que sofreu e que pretende mudar a rotina. - Estou impactado, um pouco traumatizado. Esta é uma posição nova para mim, a de vítima. Já vim a essa casa (MP) muitas vezes, trazendo vítimas. Já trabalhei em casos complicados, até mesmo com o crime organizado, mas nunca passei por isso - disse o professor, que também se encontrou com a chefe de Polícia Civil, Martha Rocha, e registrou o caso na 5.ª DP.
Baía vem estudando há cinco anos a demanda da população por reconhecimento, respeito e novos direitos. Ele tem participado das manifestações e mapeou os grupos que participam dos atos, identificando, inclusive, aqueles que fazem depredações e saques.
- É um grupo que comete crime, não vandalismo. Vandalismo é um termo impreciso, incorreto e que desqualifica a manifestação. Esses que fazem saques são criminosos. E fico muito surpreso de a polícia assistir aos crimes e não agir - afirmou o sociólogo.