O bloqueio das estradas que ligam o Centro de Sananduva, no norte do Estado, com a comunidade de São Caetano terminou em uma briga generalizada entre índios e agricultores. O conflito, que teve tiroteio e pedradas, deixou pelo menos quatro pessoas feridas. Três agricultores e um indígena tiveram de ser encaminhados ao hospital.
Há uma semana, cerca de 50 indígenas invadiram uma propriedade rural de três hectares na comunidade de São Caetano, acirrando o clima entre os grupos. Eles reivindicam a agilidade no processo de demarcação de uma área de 1,9 mil hectares no município e em Cacique Doble, que está em andamento. O dono do local encaminhou um pedido de reintegração de posse, que ainda não foi analisado pela Justiça.
Nesta segunda-feira, por volta das 8h, os agricultores decidiram bloquear os três acessos à comunidade, em um protesto contra a invasão e o processo de demarcação. O ato, que também impediu a passagem de indígenas pelo local, acabou motivando o conflito.
Segundo a Brigada Militar, por volta das 16h, uma discussão entre os grupos terminou em briga generalizada. A polícia afirma que houve alguns disparos de armas de fogo, mas nenhuma pessoa foi ferida pelos tiros.
Três agricultores e um indígena sofreram ferimentos leves e foram encaminhados ao hospital do município. Um agricultor teve de ser transferido a um hospital de Passo Fundo. Conforme a polícia, eles foram feridos com pedradas e pauladas.
Para acalmar os ânimos dos dois grupos, a BM do município teve de contar com o reforço de policiais de mais três cidades: Vacaria, Lagoa Vermelha e Cacique Doble. Cerca de 40 policiais militares trabalham na ação.
Entenda do caso:
- Cerca de 110 famílias de agricultores de Sananduva e Cacique Doble, no norte do Estado, temem perder 152 propriedades devido a demarcação de terras indígenas nos municípios.
- ­Os índios reivindicam 1,9 mil hectares, onde residem e trabalham agricultores familiares, com propriedades de 12 hectares em média.
- A Fundação Nacional do Índio (Funai) iniciou o estudo preliminar da área em Sananduva e Cacique Doble em 2005 e concluiu o documento em 2009.
- Em 2011, o Ministro da Justiça assinou a portaria que declarou a área como terra indígena.
- Em março deste ano, iniciou o processo de demarcação. Os agricultores, que têm escrituras com mais de cem anos, pretendem lutar na Justiça pelas áreas.
O conflito agrário no Estado:
- Em todo o Estado, os indígenas reivindicam 100 mil hectares em novas áreas e ampliações de propriedades já delimitadas - o equivalente ao dobro do tamanho de Porto Alegre. Segundo a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul do Brasil (Fetraf-Sul), isso representaria o desalojamento de pelo menos 10 mil famílias de agricultores.
- As novas áreas e ampliações praticamente dobrariam as terras indígenas já regularizadas ou em regulamentação, contabilizadas em 108 mil hectares. No total, somariam mais de quatro vezes a dimensão da Capital.
- O Rio Grande do Sul é o Estado que apresenta o maior número de áreas indígenas sujeitas a conflito no país, conforme um levantamento do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O relatório demonstra que 17 dos 96 territórios classificados como em situação de risco ou conflito estão localizados em solo gaúcho, o que representa 17,7% do total nacional.