- Todo mundo conhece a história. Dizem que um empresário trouxe a cobra de Mato Grosso e ela escapou, mas muita gente andou vendo ela por aí - relata, Rose Bender, 53 anos, que trabalha em um supermercado.
O responsável por comprar a sucuri realmente existe. É o proprietário da balsa que faz a travessia de Marcelino Ramos a Alto Bela Vista, em Santa Catarina, pelo Rio Uruguai. Em 1973, Waldemar dos Santos, 84 anos, comprou o bicho em Mato Grosso. A cobra foi colocada em uma gaiola, construída com uma tela de arame fino. A sucuri, que na época pesava nove quilos e media dois metros, era tratada com carinho por ele e pelos pescadores, que costumavam dar peixes para ela comer.
- Ela comia muito. Tudo que jogávamos lá ela engolia - recorda Santos.
O bicho virou o cartão de visitas da balsa. O empresário relembra que todos queriam vê-la:
- Ela ficou famosa.
Oito meses depois de chegar ao Estado, no entanto, a cobra conseguiu fugir. Abriu, aos poucos, um buraco na tela de arame e escapou. Sobraram apenas as fotos, como a que Santos enquadrou, da sucuri enroscada no pescoço do filho Neri. Quatro décadas depois, no entanto, a fama da fujona permaneceu, transformando-a em uma espécie de lenda local. Há quem diga que a viu no rio, e a cada relato ela aumentaria, chegando a ter oito metros de comprimento, e a largura de uma capivara.
Waldemar dos Santos guarda a foto do filho Neri com a cobra
Foto: Diogo Zanatta, Especial
A ciência explicaria o tamanho. Segundo a professora do curso de Ciências Biológicas e ex-coordenadora do Serpentário da Universidade de Passo Fundo (UPF), Noeli Zanella, uma sucuri pode alcançar até 10 metros. Já as cruzeiras e jararacas, comuns no RS, medem no máximo 1m50cm.
Ibama não registrou nenhuma ocorrência
Até o ano passado, os passeios da sucuri pelo Rio Uruguai eram típicas histórias de pescador, até que o balseiro Gilmar Jarosz, 40 anos, que trabalha com Santos, também confirmou ter visto a cobra.
- Eu juro que vi. Ela vinha descendo o rio e encostou na balsa.
Apesar dos relatos, o chefe do escritório regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Passo Fundo, Flabeano Castro, diz que o órgão não recebeu nenhuma informação de que haveria uma sucuri em Marcelino Ramos.
Segundo ele, é improvável que a cobra que fugiu de Santos esteja viva. Em cativeiro, uma sucuri pode sobreviver por até 30 anos. Já na natureza a expectativa de vida não passa de duas décadas, devido aos predadores.