A Polícia Civil aponta três engenheiros - dois da OAS e um terceirizado - como responsáveis pelo desabamento de torcedores no fosso da Arena, em janeiro passado.
Eles serão indiciados por dois crimes: lesão corporal culposa e exposição de outras vidas ao perigo iminente. Conforme a polícia, os profissionais sabiam que o incidente poderia ocorrer.
Odelegado Herbert Ferreira, que assina o inquérito 145/2013 da 4ª Delegacia da Polícia Civil, garante que houve negligência dos engenheiros:
- Foi uma grande irresponsabilidade o que ocorreu.
De acordo com a perícia do Departamento de Criminalística, o alambrado que cedeu naquela ocasião nem sequer atendia às normas para construção de um guarda-corpo em prédio residencial. Portanto, jamais poderia proteger milhares de pessoas em um estádio de futebol.
- Eles tinham conhecimento da fragilidade da estrutura - diz o delegado.
Oito gremistas acabaram feridos na queda. O incidente ocorreu na noite de 30 de janeiro, no momento em que Elano marcou o gol do Grêmio contra a LDU, em partida válida pela Libertadores, e a torcida festejou com a tradicional avalanche. Durante a comemoração, o alambrado que separava as arquibancadas do fosso despencou.
Após quatro meses de investigação, o inquérito de 200 páginas, com 74 fotos anexadas, está pronto para ser remetido à Justiça. Serão indiciados os engenheiros Marcos Benicio dos Santos, líder de projetos da OAS no Rio Grande do Sul, Jacques Andrade Antipoff, gerente de contratos da OAS, e Ricardo Sabino da Silva, contratado pela Aço Inox do Brasil - empresa terceirizada - para coordenar a instalação de corrimãos e guarda-corpos na Arena.
Em depoimento à polícia, Sabino afirmou que originalmente o projeto para o alambrado era bem mais resistente. Mas, conforme o engenheiro, esse primeiro modelo teria sido rejeitado por estar "fora dos padrões de beleza". Assim, de acordo com Sabino, não lhe restou alternativa senão executar um segundo projeto elaborado pela OAS.
Já os outros dois engenheiros, ambos da OAS, atribuíram a responsabilidade pela fragilidade do guarda-corpo à Aço Inox do Brasil, que contratou Sabino. Antipoff, gerente de projetos da construtora, garantiu que o alambrado foi projetado por outra empresa, com sede no Rio de Janeiro.
Responsável pela perícia que consta no inquérito, o engenheiro Telmo Roberto Strohaecker, do Laboratório de Metalurgia Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mostrou-se impressionado com as condições da estrutura.
- O guarda-corpo não tinha nem a metade da resistência exigida para a construção de uma sacada coletiva em um prédio residencial - disse o profissional da UFRGS, escalado por meio de uma parceria entre o Departamento de Criminalística e a universidade.
Para um estádio, de acordo com Strohaecker, a resistência da estrutura deveria ser 10 vezes superior.
Nos próximos dias, o Ministério Público começará a analisar o inquérito para decidir se denuncia ou não os três engenheiros à Justiça.
Contrapontos
O que diz Gerson Bossoni Mendes, advogado de Ricardo Sabino da Silva:
"O projeto original para o guarda-corpo era bem mais resistente, mas arquitetos da Arena disseram que havia um problema estético. O alegado problema estético era justamente o que dava mais resistência à estrutura. Nós entregaremos à polícia uma cópia deste primeiro projeto, para que seja anexado ao inquérito. Quando meu cliente recebeu o novo modelo, tentou alertar engenheiros da OAS sobre a fragilidade, mas não lhe deram ouvidos. Ele tinha um contrato para cumprir e executou. Não pode ser responsabilizado pelos danos."
O que diz Rafael Canterji, advogado de Marcos Benicio dos Santos e de Jacques Andrade Antipoff:
Canterji afirmou que os dois engenheiros preferem não se manifestar.
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Paulo Germano
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