Preocupadas com os alertas sobre o risco de escassez de água própria para o consumo, duas estudantes de Novo Hamburgo foram premiadas na Intel ISEF, Feira Internacional de Ciências e Engenharia, que teve a participação de mais de 1,5 mil estudantes de 70 países, nos Estados Unidos.
Desireé de Böer Velho e Ágatha Lottermann Selbach resolveram unir ecologia e ciência e desenvolveram pesquisa para dessalinizar água do mar por meio de uma bactéria. A intenção das estudantes de Ensino Médio é que, sem o sal, a água seja usada para a irrigação, por exemplo, e, no futuro, também para o consumo humano.
- A grande importância desse projeto é que o processo é simples e econômico e pode ser aplicado em vários lugares - explica Desireé, que terminou no ano passado o Ensino Médio técnico de química na Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo.
Com o trabalho, Desireé e Ágatha chegaram à Feira Internacional de Ciências e Engenharia, cuja sigla em inglês é Intel ISEF, competiram com estudantes de outros países e conquistaram o 4º lugar na categoria gestão ambiental.
Desireé conta que a experiência serviu de incentivo para seguir a carreira científica e as estudantes vão dar continuidade ao estudo para tornar a água dessalinizada adequada ao consumo humano. A partir daí, elas pretendem buscar apoio para aplicar o projeto no dia a dia e até em escala empresarial.
- Esse projeto me incentivou entrar na área científica, foi um grande passo. Viemos de escola pública onde não tínhamos tanto recurso. Agora entrei na faculdade e mudou toda minha vida. Olho o mundo de outro jeito, me agregou muito em relação ao conhecimento, o fato de ter viajado e conhecido novas culturas - disse.
O projeto das estudantes de Novo Hamburgo foi um dos nove premiados na feira que teve a participação de mais de 1,5 mil estudantes de 70 países, em maio, nos Estados Unidos. Os brasileiros ficaram com o 1º lugar entre os países latino-americanos e com o 3º no geral, atrás apenas dos Estados Unidos e do Canadá.
A coordenadora-geral da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), organização que selecionou parte dos estudantes para o evento internacional, Roseli Rodrigues Lopes, ressalta que o sucesso que os brasileiros alcançaram competindo com estudantes de tantos países mostra que é possível trabalhar o incentivo para a ciência e a engenharia ainda na educação básica. Ela avalia que esse trabalho deve ser ampliado.
- Precisamos descobrir quem são os talentos, às vezes os jovens estão na escola e não têm ideia do que é engenharia. Ele não recebe o estímulo e às vezes é um grande talento - diz.
Outra pesquisa premiada é a de Túlio Vinicius Andrade, aluno do 3ª ano do ensino médio do Grupo Gênese de Ensino, do Recife. Ele ficou com o 3º lugar na categoria ciências sociais e comportamentais. Por meio da leitura, Túlio percebeu que as doenças que mais matam no mundo estão ligadas a comportamentos sedentários. As informações indicavam que esses comportamentos começam ainda na infância e juventude, por isso, o estudante resolveu investigar a situação das aulas de educação física em escolas no Recife e descobriu que os professores da área enfrentavam dificuldades.
- Identifiquei que há falta de espaço físico, de materiais e de interesse dos alunos. Adaptei a prática pedagógica do construtivismo e criei soluções com metodologia de ensino para as principais dificuldades - explica.
O estudante fez testes com os alunos e, comprovada a eficácia do trabalho, Túlio passou a dar palestras para professores de educação física da rede pública. Após, elaborou um manual que será distribuído aos professores.
Diante dos desdobramentos das pesquisas, Roseli Rodrigues Lopes, avalia que a iniciação científica permite novas perspectivas aos jovens.
- Eles acabam tendo uma trajetória acadêmica mais rápida que a de outros. Vão para a universidade sabendo o que querem e chegam com mais maturidade. Terminada graduação, muitos seguem para o mestrado - diz.