A música regional gaúcha alimenta uma nova controvérsia. Uma canção gravada por Joca Martins vem sendo criticada pelo ritmo e pelo uso das expressões "bagual" e "nascido em cocho de sal".
A polêmica envolvendo a música Eu Sou Bagual nasceu em Santana do Livramento, cidade retratada na letra de e onde o músico ambientou o videoclipe. As críticas partiram de Rui Francisco Ferreira Rodrigues, 60 anos, coordenador da 18ª Região Tradicionalista (RT), com sede em Santana do Livramento, em entrevista ao blog Repórter Farroupilha, atualizado pelo repórter Giovani Grizotti no portal G1.
Ouça a música "Eu Sou Bagual", de Joca Martins
Rodrigues argumenta que a letra é ofensiva porque "bagual" seria sinônimo de "grosseiro, mal-educado e ignorante". Já o "cocho de sal" seria o local para guardar comida dos animais no campo.
- Essas expressões desrespeitam nosso povo, que não é bagunceiro e muito menos foi parido no meio do campo. Isso é uma chacota - afirma Rodrigues.
Para o tradicionalista, o ritmo também não está adequado aos acordes nativistas, pois parece "lambada", conforme disse no blog. Esse foi um dos pontos de maior repercussão nas redes sociais.
Gravada em janeiro, a faixa é, conforme o intérprete Joca Martins, uma homenagem ao povo local, que inclusive participou da gravação do clipe lançado há um mês. Em viagem por Minas Gerais, onde grava outra música para o novo álbum, esta com os sertanejos César Menotti & Fabiano, Joca Martins rebate as críticas. Com 26 anos de carreira, o pelotense diz que aceitou gravar Eu Sou Bagual, com letra e melodia de Fernando Soares e Juliano Gomes, respectivamente, como homenagem à cidade que sempre apoiou o seu trabalho.
- A música usa a licença poética, exaltando o jeito de ser do gaúcho, que é bagual, não no sentido pejorativo, mas por ser guerreiro e que nunca se entrega - esclarece.
Martins lembra referências de outros compositores, como o poeta Antônio Augusto Ferreira, que ganhou a Califórnia da Canção Nativa em 1980 com a canção Veterano, que diz "Sou bagual que não se entrega, assim no más". Já a referência ao "cocho", segundo Martins, seria uma forma de identificar o gaúcho como xucro que nasce no campo e se orgulha disso.
Em defesa do ritmo de Eu Sou Bagual, o próprio autor da melodia, Juliano Gomes, nascido em Santana do Livramento, assim como o letrista Fernando Soares, desmente que se trata de uma lambada, embora seja um ritmo envolvente:
- Fizemos uma mistura de milonga com cúmbia que deu certo, mas, como tudo que se inova, tende a causar estranhamento. No fundo, fizemos o que a música gaúcha sempre fez, que é misturar estilos e dar o nosso toque - diz Juliano.
Para o presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Erival Bertolini, não existe polêmica mas, sim, diferentes interpretações. Ele afirma que a entidade não tem poder de censura sobre as canções e que, pessoalmente, discorda das críticas do coordenador da 18ª RT.
- Respeito da opinião do Rui, que é um defensor da nossa cultura, mas entendo que não existe ofensa na música do Joca que, ao gravá-la, quis enaltecer a cidade - conclui Bertolini.
Com mais de duas décadas de carreira, Juliano Gomes lembra que já passou por outra controvérsia fruto de divergência de interpretação há cerca de oito anos, quando a música Pra Bailar de Cola Atada, produzida em parceria com Anomar Danubio Vieira, foi gravada por César Oliveira & Rogério Melo.
- Alguns do MTG diziam que ela estava incentivando a promiscuidade, porque o baile de cola atada era onde as mulheres dançavam com o vestido atado na cintura. Para nós, queria dizer apenas que é um baile bom - afirma o músico.
Controvérsia gaudéria
Música de Joca Martins é alvo de críticas por usar expressões como "bagual"
Ritmo da canção "Eu Sou Bagual" também foi alvo de polêmica, pois pareceria lambada
Vanessa Kannenberg / Uruguaiana
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