Resultado da adaptação ao ambiente onde são cultivadas, como condições de clima, solo, tipo de manejo, e do trabalho dos agricultores ao longo dos anos, as sementes crioulas são o retrato da biodiversidade.
A riqueza dessas sementes é exposta pela grande variação genética, em termos de cor, tamanho, forma, tipo ou altura de planta que produzem, segundo Irajá Antunes, pesquisador da Embrapa Clima Temperado. Doutor em agronomia pela Universidade de São Paulo, Antunes coordena um estudo das sementes crioulas e coleta diferentes espécies desde 1988:
- Na Embrapa, temos um tipo de feijão vermelho com 50% a mais de fibra do que o normal, uma variedade de abóbora que dura até três meses na prateleira sem estragar e milho com alto teor de óleo. São processos evolutivos que nenhum programa de melhoramento genético consegue.
Essa diversidade existe graças a um grupo de "protetores" das sementes crioulas. Em Ibarama, 28 produtores integram a Associação dos Guardiões de Sementes Crioulas. Eles preservam diferentes tipos de espécies desde 1985, com a ajuda da Emater e da Universidade Federal de Santa Maria.
Entenda a tradição
Embora não existam dados oficiais, a Embrapa já cadastrou ao menos 80 guardiões.
São agricultores que vem cultivando uma (ou várias) sementes em sua propriedade ao longo dos anos por tradição familiar ou porque a variedade é importante fonte de renda para a família.
Como produzem sementes já adaptadas ao ambiente, em geral, utilizam menos inseticidas e fungicidas, e isso resulta em uma produção com menos agressão ao ambiente. São agricultores que não se baseiam apenas em altos rendimentos de produtividade.
As sementes crioulas têm origem em plantas que vêm sendo cultivada em uma mesma propriedade ao longo do tempo, adquirindo, com isto, uma adaptação plena àquele ambiente (ou seja, às condições de solo, clima, tipo de manejo etc.).
Fontes: Irajá Antunes, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, e Leonel Kluge, presidente da Associação dos Guardiões de Sementes Crioulas