Uma das passagens mais importantes da Bíblia é aquela em que os escribas e fariseus trouxeram a Jesus uma mulher que tinha cometido adultério e a puseram no centro da roda, no Monte das Oliveiras.
Disseram a Jesus que aquela mulher havia traído seu marido e tinha de ser morta por apedrejamento, como mandava a Lei de Moisés.
Jesus ouviu o relato do caso e sentenciou: "Se existe entre vocês alguém que nunca pecou, que atire a primeira pedra".
Todos, acusados por suas próprias consciências, se retiraram e deixaram no local somente Jesus com a mulher.
Jesus perguntou a ela: "Onde estão teus acusadores?". E completou o Mestre: "Ninguém te condenou. Nem eu. Vá e não peques mais".
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Esse ensinamento bíblico é um dos mais luminosos que existem nos escritos sagrados.
Quer dizer, em suma, que os homens, antes de tentar julgar os outros, olhem para dentro de si e julguem a si próprios.
Ou seja, não podem se arvorar em juízes aqueles que têm o rabo preso, para usar uma sábia expressão popular.
Essa passagem de impressionante lucidez de Jesus está no capítulo 8, versículo 3-11 da Bíblia.
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Nunca como em tempos de hoje, é tão apropriado o ensinamento de Cristo: há reinante nos dias atuais um ativo sentimento de caça às bruxas, todo mundo querendo pena de morte, todo mundo licenciando maus-tratos e torturas aos presos, todo mundo desejando julgar os criminosos e até os políticos.
Há até multidões que condenam políticos corruptos com veemência mas, se fossem alçadas ao poder, também se corromperiam.
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Não estou me referindo àquelas pessoas que foram designadas pelo destino para serem juízes na Justiça, encarregados de julgar os processos e os réus. Esses têm o dever precípuo de julgar.
Refiro-me aos militantes de opinião que se levantam como árbitros de todas as questões e manifestam irrestrito ódio aos que transgrediram a lei, nem sequer cogitando que entre esses existem muitos inocentes.
Pois, segundo Jesus, essas pessoas são incompetentes para julgar os outros em face de que também um dia tinham de ter sentado no banco dos réus.
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Só os santos estão e estavam isentos de pecados, assim mesmo muitos deles apelaram aos céus por perdão para seus deslizes.
Esses dias, citei uma oração de Santo Agostinho que mostra que ele era santo mas não era flor que se cheirasse, enquanto jovem e já santo: "Deus, dai-me a castidade e a moderação, mas não por enquanto".
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No episódio bíblico citado, há um detalhe que me intrigou profundamente. Diz o Evangelho de João, apóstolo, portanto, que assistiu à cena da mulher adúltera sendo submetida a julgamento, que enquanto os escribas e os fariseus expunham o libelo à mulher adúltera, Jesus não olhava para eles e escrevia com o dedo no chão.
Em seguida, Jesus conclamou a atirar a primeira pedra na mulher os que não tivessem pecado. E, logo a seguir, depois que os acusadores se retiraram e deixaram a mulher adúltera em paz, Jesus voltou a escrever com o dedo no chão puro.
A minha curiosidade profunda é por saber o que Jesus escrevia com o dedo no chão.
O apóstolo João, em seu relato, bem que poderia ter descido a esse detalhe.