Construído para substituir a Baixada, no começo dos anos 1950, o estádio da Azenha foi ampliado no final da década de 1970, dando início à fase de glórias do Grêmio.
Guardiã da história gremista há três décadas, Ema Coelho de Souza, a diretora do Memorial Hermínio Bittencourt, preserva com carinho uma foto de 1951. Na imagem, dois cavalos puxam uma carreta. Há 16 operários, vestindo calças e casacos de algodão _ alguns já estão apenas de camisetas de física, no verão de Porto Alegre. Uma 17ª figura, de terno e gravata, gerencia a demarcação do Estádio Olímpico. Ao fundo, o bairro Azenha era tomado de verde e tinha poucas casas.
Foto: Ricardo Duarte
Os planos de expansão do clube vinham desde os anos 1930. A Baixada, o antigo estádio onde hoje é o Parcão, com capacidade para 10 mil torcedores, já não abrigava a ambição do Grêmio. Na semana do 37º aniversário do clube, o então prefeito Loureiro da Silva assinou a troca do terreno da Baixada por um outro, de 9,5 hectares, na Avenida Carlos Barbosa.
Essa área pertencia ao espólio do comendador José Baptista Soares da Silveira e Souza _ um açoriano que se estabeleceu na Capital, naturalizou-se brasileiro e foi um dos fundadores do Asilo Padre Cacique. Havia um problema a resolver: com a morte do comendador, a família mudou-se, a antiga chácara ficou abandonada, foi invadida e, lá, nos anos 1940, surgiu a Vila Caiu do Céu. O nome aludia à velocidade com que os casebres foram erguidos. Chegaram a somar mais de mil.
Três homens foram fundamentais na construção do Olímpico, iniciada em 12 de dezembro de 1951, com a remoção dos últimos habitantes da Caiu do Céu para a vila Santa Luzia, nos altos da Avenida Oscar Pereira: Saturnino Vanzelotti, presidente do Grêmio, Alfredo Obino, presidente da Comissão de Obras, e Sylvio Toigo Filho, o engenheiro. Eram chamados de "Os três mosqueteiros".
_ O futebol já era deficitário naquele tempo. Para ter dinheiro e erguer o estádio, a direção fez promoções, rifas e pediu doações a torcedores ilustres. Houve também a Tômbola Gremista, uma espécie de loteria. Era uma coisa de louco, mas deu certo _ lembra o ex-presidente gremista Flávio Obino, sobrinho de Alfredo. _ Eu tinha 15 anos quando o Olímpico começou a ser erguido. Meu tio sempre me levava para ver as obras. Para quem estava acostumado com a Baixada, parecia uma cidade.
Inspirado em estádios europeus e no Maracanã (de 1950), o arquiteto Plínio Almeida venceu o concurso para o anteprojeto. O seu desenho sofreu pequenas modificações na obra, da qual ele não participou. O Olímpico nasceu com apenas um anel de arquibancada e um pavilhão coberto, para 2 mil pessoas, somando um total de 38 mil lugares.
_ Costumávamos ir para as arquibancadas pelas escadas. Aquilo cansava. O Plínio se virava para mim e dizia: "Isso não é culpa minha" _ brinca Marlene, viúva de Plínio, morto de câncer, em 2009, aos 86 anos.
Plínio voltou a trabalhar no Olímpico em 1976, a convite do recém-eleito presidente Hélio Dourado. Projetou a construção do anel superior, cobrindo todos os setores e dando o sobrenome Monumental.
Dourado, 82 anos de vida e 71 de Grêmio, reinventou o Olímpico. Assumiu em um período de vitórias do Inter e reergueu a autoestima gremista. Foi após 1980, quando a reforma foi concluída, que veio o primeiro Brasileirão (1981), a primeira Libertadores e o Mundial (ambos em 1983).
_ A torcida, a quem pedi doações de cimento e dinheiro, foi quem ampliou o Olímpico. Sei que a Arena é algo moderno, mas tínhamos a alternativa da reforma. Lutei por isso, mas perdi _ lamenta Dourado.
O ex-presidente não quis se despedir do estádio. Não tem ido aos jogos e somente concordou retornar às cadeiras do Olímpico a pedido de ZH:
_ Sinto que estou visitando um querido amigo que está doente, à beira da morte. Com o fim do Olímpico, morro junto.