Falta de recursos financeiros e humanos fez com que municípios do Estado deixassem nas garagens ambulâncias enviadas pelo Governo no programa do Samu. Com um custo considerado alto demais, duas prefeituras devolveram o equipamento para o Estado.
Desde que foi entregue à prefeitura de Erechim, em junho de 2010, a UTI móvel do Samu nunca deixou a garagem municipal. Tampouco o veículo foi equipado com o material necessário para atender a população de quase 100 mil habitantes. O custo para manter o equipamento em funcionamento foi considerado proibitivo pelo Secretário Municipal de Saúde, Plínio Costa Júnior.
Para funcionar a unidade de Suporte Avançado necessita de médico, enfermeiros e motoristas disponíveis 24 horas por dia e em todos os dias da semana. Para isto, o valor médio supera os R$ 100 mil mensais, além de mais R$80 mil para equipar a ambulância. Isto tudo, só para manter a equipe de socorristas, sem contar a manutenção do veículo. Mesmo com a verba repassada pelos governos do Estado e União, o município não conseguiria arcar com o valor.
Na ponta do lápis, o cálculo é preciso. O valor gasto pela prefeitura nos últimos dois anos e meio, contratando ambulâncias da Unimed para o transporte e socorro de passageiros que necessitam de UTI adulta e pediátrica, foi de R$104 mil, o mesmo que gastariam para manter por dois meses a ambulância do Samu.
- Tentamos fazer consórcio com municípios da região para viabilizar, mas nem isto foi possível , os prefeitos acharam o valor muito alto, conta Costa Júnior.
A documentação para devolução da UTI já foi enviada ao Estado e agora o equipamento deve finalmente sair da garagem, mas para retornar ao Governo do Estado. A coordenadora do Samu na cidade, Elaine Grando, torce para que a UTI possa ser substituída por uma ambulância de Suporte Básico, de manutenção mais baixa e que já faz falta na cidade. O município mantém uma SB do Samu e equipou outra ambulância que funciona com o número 160, para dar apoio ao serviço de atendimento a emergências.
A mesma atitude precisou ser tomada em São José dos Ausentes. Conforme o prefeito Erivelto Silval Velho, a prefeitura precisaria de R$ 30 mil mensais para manter a ambulância funcionando, valor considerado alto para o município de 3,3 mil habitantes.
A prefeitura pediu ao Estado para vincular São José dos Ausentes ao Samu de Bom Jesus, já que os dois municípios são próximos e poderiam arcar juntos com os gastos. Por enquanto ainda não houve resposta da Secretaria Estadual da Saúde.
Para não deixar a população desassistida, o município investiu R$ 100 mil num veículo próprio que pode dispor com mais flexibilidade, principalmente na condução de pacientes a centros maiores.
- O programa Samu é muito bom, bastante positivo. Mas para algumas cidades, como a nossa, não funciona, explica o prefeito.
Sem médicos
Em Santa Maria, o Secretário Municipal de Saúde Flávio Brum pediu ao Estado a doação de uma UTI móvel que está sem utilização, mas ainda não obteve resposta. Em Venâncio Aires, a ambulância também não saiu da garagem. O secretário Cesar Schumacher diz que um processo para formação do consórcio com municípios da região já se estende há dois anos, e com o fim da gestão dos prefeitos atuais, ninguém quer deixar contas em aberto para o próximo ano.
- Vamos insistir em 2013, o equipamento é importante para termos uma rede de urgência e emergência, salienta Schumacher.
Em Passo Fundo e Frederico Westphalen, a maior dificuldade é encontrar recursos humanos para o trabalho. Seleções para médicos já foram realizadas, mas os candidatos são poucos. Conforme o Secretário Municipal de Saúde de Passo Fundo, Jairo Caovilla, o município tem demanda e necessita do serviço e para isto está disposto a gastar o custo mensal da ambulância.
- Já recebi advertências do Estado porque precisei usar o veículo sem a equipe completa, mas não podemos deixar pessoas morrendo em casa, lamenta.
A UTI móvel de Frederico Westphalen também não saiu da garagem e além da falta de médicos, a prefeitura não tem recursos para colocar o equipamento em funcionamento. O prefeito José Alberto Panosso deve abrir novos concursos e tenta convencer municípios da região da necessidade do serviço.
- Temos que ser parceiros neste serviço, caso contrário fica inviável para a prefeitura assumir sozinha, salienta.
NA GARAGEM
Santa Maria - Tem em atividade três ambulâncias de Suporte Básico e uma UTI Móvel. Outra Suporte Avançado enviada para atender a região é usada como substituta quando outras ficam fora de serviço. Os municípios da região não aceitaram assumir a manutenção do veículo.
Venâncio Aires - A ambulância de Suporte Avançado está parada a espera de acordo entre 13 municípios, para rateio do valor de manutenção. O carro já foi equipado mas depende de R$ 130 mil mensais para funcionar, com a contratação de pelo menos sete médicos e enfermeiros. Tem solicitado ao estado que mantenham a ambulância para uma nova tentativa em 2013.
Passo Fundo - Já fez dois processos seletivos para médicos e só quatro se habilitaram, sendo que a maioria optou por não assumir o cargo. Novos concursos devem ser realizados para a contratação de sete médicos.
Frederico Westphalen - Dois processos seletivos para contratação de médicos foram realizados e não houve candidatos suficientes. O município também busca parceria na região para manter o custo do serviço.
Erechim - Optou por devolver a UTI móvel para o Estado, devido ao alto custo de manutenção. A devolução já foi oficializada e a ambulância está parada há dois anos na garagem.
São José dos Ausentes - sem dinheiro para manter em funcionamento a ambulância de Suporte Básico, devolvou o equipamento e comprou um veículo para fazer o serviço diretamente, sem se ater às regras do Samu.
Municípios atendidos pelo Samu - 266
Bases do Samu - 158
Quanto custa :
Ambulâncias de Suporte Básico - 183 (Carro com técnico de enfermagem e motorista, rede de oxigênio, prancha para imobilização de coluna, talas, colares e cervicais, cilindro de Oxigênio, ressucitador manual adulto e infantil)
Custo total * : R$30 mil mensais
Contrapartida do Estado : R$10,2 mil
Contrapartida da União : R$12,5 mil
Ambulâncias de Suporte Avançado: 31 (UTI móvel com médico, enfermeiro e motorista, incubadora, aspirador cirúrgico, respirador, monitor, oxímetro, bomba de infusão para seringas e material para imobilização).
Custo total : R$100 mil
Contrapartida do Estado : R$ 32,3 mil.
Contrapartida da União : R$ 27, 5 mil
*o custo total citado não engloba a manutenção mensal da ambulância, apenas a contratação dos profissionais.
CONTRAPONTO
Através de nota a Coordenação de Urgências e Emergências da Secretaria Estadual da Saúde (SES) informou que:
- O Samu teve aumento expressivo no Estado, subindo de 85 bases em 2011 para 158 neste ano, com 220 ambulâncias em funcionamento, atendendo a quase 90% da população. Para auxiliar a manter o serviço, a Secretaria da Saúde ampliou a contrapartida estadual em 67% para o Suporte Básico e 81% para o Suporte Avançado, repassando mensalmente R$10.232,09 para ambulâncias SB e R$ 32.306,99 para ambulâncias SA. Além desses, os municípios também recebem repasses do Governo Federal.
Saúde
Municípios sem recursos devolvem ambulâncias do Samu para Estado
Sem dinheiro para custear manutenção das ambulâncias, seis municípios tem veículos guardados na garagem e dois optam por devolver veículos
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