Se o ônus de ser o homem mais poderoso do mundo não permite a Barack Obama a leveza e a energia de 2008, a primeira-dama Michelle se encarrega dessa missão.
Ela é a melhor cabo eleitoral do marido: vibra, sorri exibindo uma impecável dentadura, aplaude e dança. Sapatos prata de salto baixo, vestido de estampas florais lilás, verde e cinza, brincos discretos, sem colar, Michelle até ensaia uma corridinha no caminho do palco do James L. Knight Center, em Miami, na Flórida.
Sob aplausos de quem esperou três horas para vê-la, ingressa no palco como se terminasse um jogging, com naturalidade de dona de casa ao entrar no supermercado. Se a Obama quatro anos na Casa Branca esbranquiçaram os cabelos, a Michelle embelezaram.
Sem precisar discursar sobre política externa, economia ou reforma da saúde - embora não se furte -, fala do Obama por trás da figura de presidente. Traz ao público, principalmente negros e latinos, a imagem da campanha de 2008. É até possível ouvir, ao fundo:
- Yes, we can.
Não, não estamos em 2008. Quatro anos se passaram. Michelle pede mais quatro anos ao marido.
- Meu marido não vai descansar até colocar a economia nos trilhos - diz.
Por isso, o slogan é outro: Forward, em tradução livre, adiante.
Michelle estabelece conexão direta com o público.
- Te amo, Michelle - grita alguém.
- Também te amo - responde, de improviso, sem perder a elegância.
Michelle é de família pobre, trabalhadora, que, durante anos, viveu em uma casa que só tinha um quarto no South Side de Chicago. Ao discursar por 30 minutos, atrai a mesma luz do jovem que conheceu há 23 anos, no escritório de advocacia onde trabalhava.
- Por Deus, quem põe nome de Barack em um filho - disse aos colegas.
Educada em Princeton e Harvard, ela carrega no discurso a simplicidade de quem transformou os jardins da Casa Branca em horta. Sabe que seu exemplo toca as mulheres.
- Obama defende o direito de vocês - diz, aludindo ao tema do aborto.
E encerra aplaudindo quem a aplaude. É fotografada. Querem ser como ela.