Consagrada com o Urso de Ouro no último Festival de Berlim, a produção italiana César Deve Morrer, dos irmãos Taviani, é um destaque da programação da 9ª Seleção de Filmes, em cartaz em Porto Alegre.
O longa, que passa nesta terça-feira, às 19h30min, no Cine Espaço Wallig, é um dos mais novos expoentes da vertente do cinema contemporâneo que mistura ficção com realidade - outro deles é o falso documentário argentino Paisagens Devoradas, de Eliseo Subiela, também presente na grade da Seleção (confira os horários no roteiro de cinema de ZH).
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César Deve Morrer acompanha a encenação de um espetáculo teatral numa penitenciária de segurança máxima dos arredores de Roma. Na trama, o espectador acompanha os detentos sendo selecionados, depois ensaiando e, por fim, apresentando uma montagem de Júlio César, de William Shakespeare. Tudo sob o comando do diretor teatral Fabio Cavalli, responsável por outras peças encenadas anteriormente na prisão de Rebibbia, entre elas A Divina Comédia, de Dante.
Ao mesmo tempo em que registra a descoberta da arte por parte dos atores amadores - "Um deles me disse que, quando atua, parece que pode se perdoar, porque aquilo toca em emoções profundas", relatou Vittorio Taviani, codiretor com seu irmão Paolo, ao receber o troféu em Berlim -, o longa aposta na aproximação do real em sua reconstrução ficcional. Até que ponto se trata de um documentário sobre o projeto de encenação de Júlio César no presídio de Rebibbia? Ou, para além disso, trata-se de uma ficção que faz uso do real para potencializar seu impacto diante do espectador? César Deve Morrer é tudo isso ao mesmo tempo. Não traz nada de inovador, mas é um dos mais contundentes exemplos da potencialização do impacto de um projeto a partir de sua aproximação com a realidade retratada.
Os grandes festivais têm reconhecido cada vez mais esse tipo de produção. Não apenas Berlim: Cannes, o mais badalado entre eles, consagrou por dois anos consecutivos os hipernaturalistas Entre os Muros da Escola (em 2008) e 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (2007). Isso pouco depois da segunda Palma de Ouro para os irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne (por A Criança, de 2005), conhecidos pelo realismo exacerbado de suas produções ficcionais.
Estendendo-se até quinta-feira, a 9ª Seleção de Filmes permite ao espectador conhecer não apenas títulos aguardados desde a sua premiação nos festivais internacionais, mas também tendências em voga na produção contemporânea.