Novos dados do Censo 2010, revelados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstram que os gaúchos lideram uma tendência nacional de substituir filhos por trabalho e maior rendimento. O Estado apresenta o maior percentual do país de casais sem filhos, somando 23,6% famílias sem descendência, e o segundo mais elevado índice nacional de domicílios em que os dois cônjuges trabalham. Como resultado, os lares rio-grandenses estão mais abastados, mas com presença cada vez mais rara de crianças.
Até os anos 1980, a maior parte das famílias gaúchas contava com apenas uma fonte de renda. Conforme o supervisor de Documentação e Disseminação de Informações do IBGE-RS, Ademir Koucher, hoje há pelo menos dois ingressos de rendimento na maioria dos domicílios devido ao fato de tanto o homem como a mulher trabalharem.
- Há 30 anos, havia uma pessoa com renda e três dependentes, principalmente crianças. Hoje, a maioria das casas tem duas fontes de renda de casais que trabalham. Como resultado, há menos dependência, maior riqueza e possibilidade de poupança - analisa Koucher.
Essa revolução na vida doméstica gaúcha é completada por uma segunda frente: a diminuição na fecundidade, que vem sendo freada pela devoção crescente das mulheres ao mercado de trabalho, e cada vez menor à vocação maternal. A redução na natalidade gaúcha, tradicionalmente uma das menores no país, levou à queda da média de filhos por mulher de 2,1 para 1,7 em uma década. Como resultado, o número médio de ocupantes dos domicílios diminuiu de quatro, há 30 anos, para apenas três pessoas atualmente.
- Muitos gaúchos vêm trocando a possibilidade de ter filhos pela busca de uma maior riqueza e melhor condição de vida. É um fenômeno que, segundo os dados revelam, vem sendo mais intenso no Rio Grande do Sul do que em outras partes do Brasil - observa Koucher.
O recuo na fecundidade ocorre, principalmente, entre casais com maior escolaridade e faixa de rendimento. Essa tendência vem contribuindo ainda para a criação de ilhas de isolamento no Estado - quando a casa não é ocupada nem mesmo por um casal, mas por uma única pessoa sem a companhia de um cônjuge ou filho. Herval, localizado no sul gaúcho, é o município brasileiro com maior proporção de domicílios onde vive apenas uma pessoa (veja número ao lado). Da mesma forma, Porto Alegre lidera as capitais nesse quesito.