Quem passar pelos escombros de um antigo frigorífico na Avenida Presidente Vargas na manhã desta quinta-feira encontrará um cenário de caos em Passo Fundo, no norte do Estado. Sirenes, ambulâncias e equipes de resgate desesperadas para salvar vidas. Terremoto, desabamento ou atentado terrorista? Você decide. É uma simulação. Ela será o ápice da 6ª Jornada Internacional Creixell de Busca e Salvamento, um treinamento especial para cães farejadores em zonas de conflito que vai até sexta-feira.
Figurantes serão maquiados como se estivessem feridos e posicionados em locais de difícil acesso embaixo de escombros. O desafio de encontrá-los com rapidez e garantir socorro imediato caberá a 38 cães das unidades de resgate e salvamento da ONG K-9 de Creixell. Mesmo simulada, a operação envolverá policiais, bombeiros, equipes médicas e a Defesa Civil. Serão feitas mais de 30 salvamentos na ação, que envolverá cerca de cem pessoas. Quem quiser poderá acompanhar tudo de perto. Pelo menos uma escola já confirmou presença.
A 6ª Jornada Internacional iniciou segunda-feira em Passo Fundo, que sedia a programação por ter uma das quatro equipes da organização no Brasil - as outras são em Ivoti/RS, Ribeirão Preto/SP e Rio de Janeiro/RJ. Durante a semana, os 53 instrutores de Brasil, Argentina, Chile, Espanha e Portugal participam de palestras com especialistas e treinamentos em zonas perigosas como escombros, pedreiras, matas e áreas rurais. No evento, adestradores e animais são avaliados e certificados para atuar em catástrofes internacionais até julho de 2013.
Mas a atividade não é restrita a membros da ONG. Há convidados especiais, principalmente bombeiros voluntários de estados como Minas Gerais, Goiás e São Paulo. Todos os participantes possuem experiência com o treinamento de cães. É o caso de Reginaldo Pereira Aranda Neto, diretor da ONG no Brasil. Ele conta que uma equipe pode ser formada em quatro meses, mas diante da dificuldade para treinamentos diários, o processo leva, muitas vezes, quase dois anos. O investimento vale a pena, garante ele, pois em situações de risco os cães costumam ser mais ágeis e eficientes do que muitas tecnologias.
- Nenhum outro equipamento consegue reproduzir a sensibilidade, instinto e experiência do cão para identificar odores. O trabalho é árduo, mas chegar a tempo para salvar uma vida não tem preço - destaca Aranda Neto.
Como o cão consegue localizar vítimas em zonas de risco?
Os cães farejadores usados em operações de resgate são considerados atletas. Preparados desde os primeiros meses de vida, os animais treinam horas por dia. O resultado é preparo físico e resistência para trabalhar por mais de 12 horas em catástrofes em qualquer região do mundo. Em tese, qualquer raça pode ser adestrada, mas especialistas apontam pastor alemão, pastor holandês, pastor belga malinois e labradores como as que mais correspondem.
- Bem treinados, eles trabalham em ambientes desconhecidos e inóspitos por horas. Ao estabeleceram uma relação de confiança com instrutor, eles mantêm o foco - destaca Eraldo Zanella, professor do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF).
O grande diferencial dos cães é o olfato, que tem cerca de 50 vezes mais capacidade de identificar odores do que humanos. O professor explica que os animais são treinados para perceber substâncias liberadas pelas pessoas, o que garante encontrá-las mesmo embaixo de escombros ou da terra. Mas tudo depende de como é feita a preparação. Zanella também ressalta que, geralmente, cada cão é especializado em um tipo de salvamento, o que exige preparação diária para que possa cumprir as tarefas exigidas.
Saiba mais sobre a ONG K-9 de Creixell
Sediada em Creixell, na Catalunha, a organização atua em tragédias naturais em todo o mundo. Além da Espanha, ela possui delegações no Brasil, Portugal, Argentina e Chile. Entre as fontes de recursos que financiam o grupo, a principal é a parceria com universidades espanholas por meio de campanhas entre os alunos incentivando doações.
Desde que foi criada, a organização participou de operações de resgate e salvamento como terremotos no Peru e no Haiti e deslizamentos de terra como os registrados no ano passado em Nova Friburgo (RJ) e Teresópolis (RJ). As unidades de resgate e salvamento da K-9 também desenvolvem ações preventivas, como identificação de explosivos ou drogas. Considerados atletas, os cães são capazes de trabalhar por horas em locais críticos.
Preparação no Norte
Simulação de catástrofe treina cães para salvar vidas em Passo Fundo
Programação da 6ª Jornada Internacional Creixell de Busca e Salvamento vai até sexta-feira
Leandro Becker
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