Um sítio, com uma casa pequena e uma roça. Foi em um local simples e igual a centenas de outras propriedades rurais do interior do Estado que a Polícia Civil realizou a maior apreensão de drogas feita pela corporação no Estado.
Foram 412 quilos de cocaína, crack e óxi encontrados na localidade Linha Curitiba, no interior de Candelária.
A droga estava acondicionada em barras medindo de 30cm x10 cm, envoltas por plástico e dentro de tonéis. Os tonéis foram enterrados com pouca profundidade no meio da lavoura, em uma profundidade que não ultrapassava cerca de 20 cm. Para encontrar a droga, porém, a polícia usou uma retroescavadeira. Como não sabia a profundidade em que a droga estava escondida, e nem a quantidade, foi preciso revirar todo o terreno. Em outros pontos, a cocaína pura estava dentro de baldes. A polícia localizou ainda quatro quilos de crack que estavam esfriando em formas, e logo seriam distribuídos.
A droga localizada no Vale do Rio Pardo seria parte de um esquema internacional de tráfico. A cocaína pura seria importada da Bolívia, sendo transportada de caminhão até o Rio Grande do Sul. No sítio parte dela era transformada, em um laboratório, em crack. Dali também funcionava um centro de distribuição de cocaína. Na Linha Curitiba a droga era entregue a pequenos traficantes, que abasteciam os vales do Rio Pardo e do Taquari. Parte do crack produzido também chegava à Região Metropolitana.
Pouco mais de 40 agentes da polícia deslocados de Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul e Rio Pardo chegaram à propriedade no início da manhã desta quarta-feira. A indicação do local veio através de um longo processo de investigação - que se intensificou após a prisão de um traficante em fevereiro. A polícia já saiba que havia um centro de distribuição de drogas na região, confirmada pelo traficante preso em fevereiro, mas as investigações avançaram também por um golpe de sorte. No mês passado um traficante morreu ao bater de moto em uma vaca, em um ponto próximo ao sítio. Ao investigar os sítios próximos perceberam na propriedade um forte esquema de segurança e começaram a monitorar o local.
- Estamos investigando há sete anos. Com este homem havia dois tijolos de crack e um de cocaína. Como o acidente foi no interior, passamos a acreditar que o laboratório ficava por perto- afirma o delegado regional do Vale do Rio Pardo, Julci Severo.
Dentro da casa a polícia encontrou, além do laboratório, insumos para a produção das drogas e 30 quilos de cocaína. Em seguida, cães farejadores mostrariam que a apreensão inicial não correspondia nem a 10% do estoque produzido no local. Embaixo de uma roça de milho, aipim e cana haviam outros 382 quilos.
Um dos distribuidores da droga, e considerado braço direito do principal traficante, foi preso. Lucas Júnior Oliveira, 24 anos, foi localizado em Venâncio Aires. No sítio outras duas pessoas foram presas. Nildo Jung, 52 anos, é apontado pela polícia como o "alquimista". Era dele a tarefa de transformar a cocaína em crack. Selges Jung, 54 anos, também foi presa no local. Nenhum deles, no entanto, seria o principal responsável pela operação de tráfico.
- Já identificamos o traficante principal e devemos pedir a prisão preventiva dele nos próximos dias- afirma o titular da Delegacia Especializada de Furto, Roubos e Capturas (Defrec) de Santa Cruz do Sul, Luciano Menezes.
A rota da droga
- A cocaína pura seria produzida na Bolívia
- O transporte até o Estado seria feito de caminhão
- No sítio parte dela era transformada em crack e outra parte distribuída como cocaína
- Levada por pequenos distribuidores, a droga abastecia os vales do Rio Pardo e do Taquari
- Parte da produção de crack também era vendida na Região Metropolitana