Novos grampos da Polícia Federal evidenciam ligações do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) com o grupo acusado de chefiar a máfia dos caça-níqueis em Goiás. O nome do parlamentar é citado em conversas gravadas durante a Operação Monte Carlo, nas quais o empresário de jogos de azar Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, se refere a quantias milionárias.
As gravações, reveladas nesta quarta-feira pelo Jornal Nacional, da TV Globo, seriam do início do ano passado e mostram Cachoeira, apontado pela PF como o chefe da organização criminosa, conversando com dois integrantes de seu grupo sobre a contabilidade do esquema.
O contador Geovani Pereira da Silva, que seria o responsável pela administração financeira da quadrilha e está foragido, e Cláudio Dias de Abreu, apontado pela PF como sócio de Cachoeira em vários negócios, querem, nas conversas, usar "um milhão" para pagar contas. O contexto das conversas e o destino do dinheiro não ficam claros.
Numa das gravações, Cachoeira pergunta a Abreu quanto dinheiro reteve. Ouve a seguinte resposta: "Um milhão do Demóstenes". Referindo-se ao senador, o empresário de jogos de azar cita valores calcula: "Um milhão e quinhentos mais seiscentos, que dariam dois e cem". Ele cita mais um milhão, que Cachoeira diz ao sócio ter pedido para segurar. Ao fim, fecha a conta em "três e cem".
Cláudio discorda e, usando a expressão "este do Demóstenes", diz que já tinha sido mostrado a ele e que Cachoeira vinha segurando (o dinheiro) desde que o senador ganhou a eleição.
Ao todo, o nome do parlamentar aparece seis vezes nas conversas, com duração de cerca de cinco minutos. Os diálogos integram o material remetido pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ao Supremo Tribunal Federal (STF), que decidirá sobre a abertura de inquérito para apurar o envolvimento do senador em crimes.
Entenda as denúncias que envolvem Demóstenes Torres
Grampos feitos pela Polícia Federal (PF) e outras informações de inquéritos do órgão ligariam o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) ao empresário do ramo de jogos de azar Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira. Investigado por um esquema de corrupção desvendado na Operação Monte Carlo, da PF, Cachoeira foi preso em fevereiro, sob a acusação de exploração ilegal de jogos de azar em Goiás.
Além de manter conversas frequentes com o bicheiro, o senador também teria recebido presentes e pedido dinheiro a Cachoeira. No dia 6 de março, durante sessão plenária, Demóstenes admitiu que trocou telefonemas com o bicheiro, mas disse que recebeu apenas presentes de casamento de Cachoeira - uma geladeira e um fogão importados.
De lá para cá, novas reportagens apontaram que o senador se comunicava com Cachoeira por meio de um telefone habilitado nos Estados Unidos, para evitar grampos. Além disso, denúncias apontaram que o senador teria recebido dinheiro proveniente do jogo do bicho. Demóstenes Torres negou que seja investigado por crimes de contravenção e afirmou que a violação do seu sigilo telefônico não obedeceu a critérios legais.
Pressionado, Demóstenes deixou a liderança do partido no Senado no dia 27 de março. Em carta, ele afirmou que subirá à tribuna do Senado para responder aos questionamentos dos colegas tão logo tenha acesso ao conteúdo dos autos nos quais é acusado. Ele declara que é inocente e que, embora tenha tido amizade com Cachoeira, jamais participou de qualquer atividade ilícita.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao Supremo Tribubunal Federal (STF) a abertura de inquérito para apurar o envolvimento de políticos - entre eles o senador Demóstenes Torres - com o empresário Carlinhos Cachoeira.
Situação agravada
Novas gravações relacionam senador Demóstenes Torres a máfia de caça-níqueis
Nome do parlamentar é citado em conversas gravadas durante a Operação Monte Carlo
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