Para além das discussões sobre o futuro do livro de papel versus a hegemonia vindoura dos e-books, 2011 viu renascer bons debates sobre o que de fato interessa na literatura: o que ela tem a dizer e como dirá. Ao chegar ao Brasil um ano após a publicação nos EUA, Liberdade, de Jonathan Franzen, provocou críticas e elogios por tentar apresentar a literatura como um espelho do mundo, aos moldes do realismo do século 19 - e pelo quanto é válido, ou impróprio, promover um avanço do romance com um retrocesso formal.
Esse mesmo realismo teve nos escritores russos alguns de seus pontos mais altos, e não faltaram lançamentos neste ano corroborando essa afirmação. Destaque para a Nova Antologia do Conto Russo organizada por Bruno Barreto Gomide e para a nova tradução de Guerra e Paz de Rubens Figueiredo. A primeira, lançada pela Editora 34 - que tem apresentado algumas das melhores traduções da produção russa -, traça a história da literatura daquele país a partir de uma narrativa curta de cada autor. A segunda, que sucede outros títulos de Tolstói lançados pela Cosac Naify, tem como mérito a tradução fidedigna, diretamente da língua original. O tradutor, Rubens Figueiredo, foi o vencedor dos prêmios São Paulo e Portugal Telecom pelo romance Passageiro do Fim do Dia.
Outro debate que teve lugar em 2011 foi o da qualidade da atual geração de ficcionistas nacionais, duramente atacada pelo crítico Alcir Pécora. Dois gaúchos contemporâneos, Michel Laub e Paulo Scott, não chegaram a responder à crítica, mas apresentaram novos bons romances: Diário da Queda e Habitante Irreal.
Os 10 livros de 2011
Liberdade, de Jonathan Franzen: democrata no conteúdo, republicano na forma.
Nova Antologia do Conto Russo, organização de Bruno Barreto Gomide: compêndio de genialidades.
Guerra e Paz, nova tradução, por Rubens Figueiredo: direto do original, a essência do clássico.
Steve Jobs, de Walter Isaacson: qualidade sem perder tempo.
Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr.: a polêmica do ano no mercado do livro.
Os Últimos Soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais: thriller magistral sobre Fidel e os EUA.
Como Funciona a Ficção, de James Wood: texto jornalístico leva ao âmago da criação literária.
História da Literatura Brasileira, de Carlos Nejar: como funciona a ficção (nacional).
Habitante Irreal, de Paulo Scott: cruel espelho político-social dos impasses de uma geração.
Diário da Queda, de Michel Laub: a lógica da vitimização em xeque.