Às 9h10min de quinta-feira, Zero Hora conversou com o ex-vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre Adelino Pinto. Falando ao celular, dizendo estar em Roma, Pinto afirmou que não deixou dívidas no Rio Grande do Sul e garante que também é vítima do golpe que lesou a Arquidiocese de Porto Alegre da Igreja Católica em R$ 2,5 milhões.
>>> Leia na edição impressa: como um
vice-cônsul levou R$ 2,5 milhões da Cúria
Sem a imunidade consular, o português se tornou, na sexta-feira, um foragido da Justiça brasileira. Ele terá de prestar contas por um golpe que se estendeu ao longo de 2010.
O dinheiro, a contrapartida brasileira para uma suposta ONG belga que reformaria igrejas da Capital e do Interior, foi desviado por meio da conta de Pinto em um esquema que ludibrou religiosos gaúchos e constrangeu autoridades lusitanas.
Sobre os R$ 447 mil que gastou de sua conta, é categórico: "não lembro nada disso". Assegurou ainda que voltará em breve à Capital e que vai se apresentar à Polícia Civil.
A seguir trechos da entrevista:
Zero Hora - Onde o senhor está?
Adelino DAssunção Nobre de Melo Vera Cruz Pinto - Em Roma, a tratar de assuntos pessoais. E vou voltar a Porto Alegre dia 15.
ZH - O que vem fazer em Porto Alegre?
Pinto - Sou vice-cônsul aí. Preciso dar a cara e me apresentar às pessoas.
ZH - Se apresentar no consulado?
Pinto - Sim.
ZH - Mas o senhor está afastado das funções e é investigado pelo Ministério Público português...
Pinto - Sim, mas até a conclusão, posso me apresentar. Não tem qualquer problema.
ZH - O senhor pretende se apresentar à polícia em Porto Alegre?
Pinto - Vou me apresentar ao delegado Paulo Cesar Jardim. Quero fazer neste mês de agosto.
ZH - Não teme ser preso?
Pinto - Não, jamais.
ZH - Por que o senhor sacou os R$ 2,5 milhões da Arquidiocese que estavam caucionados e transferiu R$ 1,8 milhão para sua conta do banco BBVA, em Lisboa?
Pinto - Porque o Padre Inácio Ledur me pediu que agilizasse as coisas, e como a Teresa Falcão e Cunha pediu para que mandasse para a conta dela, eu repassei esse dinheiro para conta dela. Aliás, há provas documentais em que ela assume que ficou com o dinheiro.
ZH - Quem é Teresa Falcão e Cunha?
Pinto - É de uma ONG.
ZH - Mas ninguém conhece essa mulher...
Pinto - É verdade, eu que o diga, eu que o diga. Ela agora desapareceu. Mas, de qualquer maneira, pediu a uma amiga dela que justificasse que até o final do ano ia entregar o dinheiro.
ZH - Ela é portuguesa?
Pinto - É sim. É do Algarve.
ZH - Por que não devolveu o dinheiro à Igreja?
Pinto - Porque estou a esperar pelas pessoas para quem eu passei o dinheiro. Aliás, disseram que vão devolver diretamente à Igreja.
ZH- Quem disse?
Pinto - Uma amiga, colaboradora da Teresa Falcão e Cunha.
ZH - Como é o nome dela?
Pinto - Teresa Almeida.
ZH - Quem é ela?
Pinto - É uma funcionária pública em Portugal que me apresentou a Teresa Falcão e Cunha.
ZH - Esse dinheiro não está na sua conta no banco BBVA?
Pinto - Não. Já foi passado para a doutora Teresa Falcão e Cunha. Podes consultar minhas contas. Aliás, já autorizei o Ministério Público português para fazer o rastreio.
ZH - O dinheiro será devolvido?
Pinto - Vai ser devolvido, lhe dou essa garantia.
ZH- Quanto?
Pinto - Tudo. Os R$ 2,5 milhões.
ZH - Quando?
Pinto - Eu creio que o mais rápido possível. Eu pedi que fizessem isso antes do dia 7 de setembro, quando dom Dadeus faz 75 anos e vai embora da Igreja.
ZH - O senhor está envergonhado?
Pinto - Não, porque fui muito enganado por todos.
ZH- Todos quem?
Pinto - Os padres, a Teresa Falcão e Cunha.
ZH - O senhor se considera uma vítima?
Pinto - Sim. Sou uma das vítimas. Os padres também são vítimas. Eu fiquei sem nada. Acabei colocando dinheiro meu também que ainda não foi restituído.
ZH - O senhor gastou R$ 447 mil das suas contas bancárias. O que comprou?
Pinto - Só se estou com amnésia muito grande, mas não lembro nada disso. Comprei coisas essenciais.
Na última sexta-feira a Justiça decretou a prisão de Adelino. A decisão foi informada ao Ministério das Relações Exteriores, Interpol e Polícia Federal. Ele investigado no Brasil por suspeita de desvio de cerca de R$ 2,5 milhões da arquidiocese local. O advogado de Adelino, Amadeo Weinmann, considera desnecessária a prisão, já que a ONG teria informado que vai entregar o dinheiro para a Cúria Metropolitana.
"Só se estou com amnésia, mas não lembro nada", diz ex-vice cônsul de Portugal em Porto Alegre
Sem a imunidade consular, o português Adelino DAssunção Nobre de Melo Vera Cruz Pinto se tornou, na sexta-feira, um foragido da Justiça brasileira
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: